A que ponto chegou o clamor angustiado do nosso povo!... Há poucos minutos, passou aqui em frente a minha casa uma procissão, uma car...

Tende piedade de nós

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A que ponto chegou o clamor angustiado do nosso povo!...

Há poucos minutos, passou aqui em frente a minha casa uma procissão, uma carreata silenciosa (lenta), organizada pelo pároco do bairro onde moro. Eram muitos automóveis!

De um carro de som, ouvia-se solos de uma guitarra quase murmurando, como que solidária aos pedidos veementes de fé, de angústia e de oração dos participantes transeuntes.

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Jon Tyson
O Padre da paróquia sussurrava forte e com a voz um pouco cansada, quase ofegante:

"Meu divino Pai, olhai com misericórdia para o mundo".

Uma mocinha, segurando um microfone, em cima do Trio Elétrico, com a voz meio roufenha - quase a desentoar, emocionada -, respondia:

"Com tuas graças, Senhor, e louvores a cada momento".

Súbito, olho para a praça. Dezenas de pessoas (de todas as faixas etárias), compenetradas, sôfregas, de joelhos fincados nas calçadas, nos canteiros, debruçadas nos bancos da praça, com uma contrição que poucas vezes pude ver na vida.

Numa hora dessa, não há quem não veja o quanto viver é preciso e o quanto a vida representa para nós e para os nossos destinos!

Não há como brecar esse sentimento líquido (até meio estéril), mas deixando escorrer o medo pelas rugas do rosto, o pranto, o espanto sufocados nesse silêncio imenso e enternecedor!

Daqui, gritei baixinho pra dentro de mim:

Senhor, se não for te pedir tanto, tende piedade de nós!

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