Estarei sempre inteiro, de corpo e alma, em tudo aquilo que escrevo. Conversando com estrelas, borboletas, nuvens que passam, passarinhos que cantam na minha janela, e fazendo-os conversar com vocês também”
Basta este parágrafo para definir a essência de um homem como Carlos Romero.
Com a curiosidade espantada e encantada das crianças, a sabedoria de quem já viveu um bocado e viu muita coisa, ele continuava achando que sempre há muitas maneiras de aprender. Uma delas é escrevendo, lendo e viajando.
Suas deliciosas crônicas cativam não somente pela forma literária, mas pelas lições de observação, reflexão interior e de autoajuda que estão presentes nas boas “conversas” com quem o lê.
Viajando pelo mundo, então, era quando nós mais aprendíamos. Já se disse por aí que se você quiser conhecer bem uma pessoa, viaje com ela. As viagens empreendidas em sua companhia, que lhe renderam até mais um livro de crônicas, foram um aprendizado essencial e inestimável compartilhado com o cronista.
Que dizer de um cronista a imaginar que, ao se fecharem as portas do Museu do Louvre, a Monalisa, “cansada de rir o dia inteiro para os turistas, aproveita para ficar séria”?... Ou, quem sabe, abandona o seu discreto sorriso e “dá uma boa gargalhada, mangando das multidões que passam o dia todo a fotografá-la?”
Que dizer de um homem que notava “a indiferença das pessoas perante a lua que boia prateada nas águas do mar de Tambaú”, e comentava, com o humor de sempre: “Se a lua fizesse barulho, dançasse e se rebolasse todo mundo viria vê-la”...
Andando, certa vez, pelas largas avenidas de Santiago do Chile, avistamos um casal de jovens com um bebê no meio, caminhando meio trôpego porque era muito novinho. Observando calado, ele comentou comigo: “veja só como é a vida... a gente termina exatamente como começa, cambaleando... ”
Nos concertos clássicos a que assistimos, com grandes orquestras, em notáveis teatros pelo mundo, ele se soltava em devaneios que se transformaram em admiráveis reflexões: “Quando chegou a vez da famosa partitura de Tchaikovsky – A Valsa das Flores – comoveu-me o dedilhado da harpa, nos arpejos que lembravam lágrimas descendo de um rosto, neve caindo no campo ou folhas se soltando de uma castanhola”.
Ele era de viver e curtir o instante presente, o aqui-e-agora: “Ah, se nós olhássemos as pessoas, os animais, todas as coisas, sempre com um olhar de despedida! O transitório adquiriria uma aura de eternidade”.
“Aura de eternidade” é o exemplo de amor pela vida, pela música e pela Natureza que você nos deixou, cronista. Uma luz que estará acesa, noite e dia, de inverno a verão, vida após vida, sonhando ou acordado, infinito como foi, e sempre será o nosso amor por você.