Que tal uma cidade por cujas ruas você pudesse caminhar debaixo de mangueiras, jambeiros, jaqueiras, goiabeiras e outras frutas mais? Essas árvores serviriam a todos os propósitos: ampliar a mancha verde em benefício da pureza do ar e do clima e garantir a sombra típica das copas ornamentais com a vantagem da oferta de frutos aos passantes, dos mais pobres aos mais remediados.
Pois esta cidade quase existiu por obra e graça do homem que a governou entre quatro passagens do mês de outubro: de 1920 a 1924. No transcurso desse tempo, o médico Walfredo Guedes Pereira plantou jambos na Avenida Coremas, além de mangas na Maximiano Figueiredo e, ainda, na João Machado.
A estupidez dos sucessores no comando da Prefeitura interrompeu esses cuidados com a Capital dos paraibanos. E fica a pergunta: como seria a vida dos moradores de pequenas ou grandes cidades deste Brasil enorme e desigual se o Poder Público tratasse de estimular a transformação, em pomares, de ruas, parques, praças e quintais? Tão simples. Bastaria plantar, regar e cuidar e a Natureza se encarregaria do resto.
Walfredo começou a fazer mais do que isso. Além de semear mangas e jambos em ruas centrais, refez todo o traçado urbanístico de João Pessoa. A Praça da Independência estende-se, até hoje, em terreno antes pertencente à sua família. Nestes dias atuais, marcados por tantos desvios de conduta, alguém consegue imaginar tal coisa? Um agente político disposto a servir e não servir-se do cargo que ocupa?
Era esta, porém, a essência de que foi feito o admirável Walfredo Guedes Pereira. No primeiro ano de sua gestão, ele desapropriou 42 hectares da antiga Mata do Roger para ali instalar o Parque Arruda Câmara, a “Bica”, cartão postal e um dos mais exibidos orgulhos dos moradores da cidade.
Quando o termo ecologia sequer compunha o vocabulário técnico, muito menos o popular, esse homem tratou de preservar os mais de 600 hectares da Mata do Buraquinho, a mais ampla reserva florestal nativa já instalada em perímetro urbano do País. O pulmão verde de João Pessoa é, hoje, uma área de preservação rigorosa por decreto federal.
Quanta falta fazem, hoje, homens públicos do quilate de um Walfredo Guedes Pereira.