Conheço gente que não tem muito respeito pelo Dia dos Pais. Acha-o tão-somente uma jogada comercial. De certo modo esse preconceito se explica: o pai não tem nem de longe o prestígio que tem a mãe. O chamado amor materno, tão decantado em verso e prosa, gesta-se nas entranhas do ser. Começamos fundidos com essa mulher que nos acarinha e nutre depois de abrir para nós as portas do mundo. Mãe é mãe.
E pai? Quando se diz “pai é pai”, é com o objetivo de acentuar qualidades negativas. Coisas do tipo: deixou o menino sozinho em casa e foi ao jogo de futebol. Ou tomar cerveja com os amigos. E logo vem a comparação: uma mãe jamais agiria com semelhante descaso.
Ouvi comentários assim a propósito de uma criança que foi esquecida no carro e morreu asfixiada. Uma amiga me disse: “Tinha que estar com o pai. Que mãe faria uma coisa dessas?”. Mãe não esquece, não se alheia, tem sempre o filho na mente e no coração.
Vamos com calma. É verdade que pai não chega a extremos de sacrificar projetos pessoais em favor dos filhos. Não “padece no Paraíso”. Mas ele também amarga o seu quinhão de dor.
A gravidez, por exemplo, não é um estado apenas dela. Quem durante essa época tem de fazer prodígios para satisfazer os caprichos da gestante? Conheço um sujeito a quem foi incumbida a tarefa de procurar carambola à uma da madrugada. Não cheguei a esse ponto, mas já fui ao supermercado tarde da noite à procura de jaca. Só servia jaca, e um pouco verde.
Outra injustiça é dizer que pai não participa da vida dos filhos. Quando ele silencia e aparentemente fica à margem, é porque o deixam interferir pouco nos domínios do lar – que é território preponderantemente feminino. As mulheres sabem que o machismo é uma faca de dois gumes, mas fazem questão de realçar apenas o gume que as fere.
E o outro, que se volta contra o homem mutilando-o por dentro? Quanto do silêncio paterno não é ressentimento por o solicitarem tão pouco? Quanto daquela aparente omissão não mascara a expectativa ansiosa de que todos em volta estejam felizes? Quanto daquela rudeza não passa da crispação de uma alma sensível, que por limitações atávicas não aprendeu o jeito de chorar?
Pai é pai, e merece o seu dia.