No livro "Funes, o Memorioso", Jorge Luís Borges conta a saga de um jovem de 19 anos que caiu do cavalo e sofreu um terrível...

Órfão de Kazan

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No livro "Funes, o Memorioso", Jorge Luís Borges conta a saga de um jovem de 19 anos que caiu do cavalo e sofreu um terrível mal. Desde então, ele não consegue esquecer nada. Além dos novos pensamentos, os antigos e mais profundos transbordam a todo momento.

Borges convida a refletir nossas vidas a partir da construção afetiva da memória. Ele sugere que precisamos esquecer para sobreviver, porque existem verdades que a vida repele; devemos deixar pra trás lembranças sem conteúdo afetivo;
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Maxi Carre
caso contrário, corremos o risco de apenas catalogar ou enumerar o conhecimento, como um estudo de fósseis. O espaço da memória que nos prende ocupa o rancor, o ressentimento e a tristeza, sentimentos que, por vezes, nos levam à solidão e ao vazio cultivado pela ausência de busca por novos caminhos.

O tempo me faz senhor de mim e muitíssimas vezes dos que dependem de minha sapiência, se é que já a tive para oferecer, ou apenas repassei o que aprendi nessa breve existência. Para seguir diferente de um autômato, que se faz expressar sempre a comandos programados, não há necessidade de rebuscar mecanismos relacionados a uma fase mais primitiva do desenvolvimento psicossexual, como, por exemplo, ao modus operandi de um período do desenvolvimento em que ainda não lográvamos integrar os objetos e a realidade, a fase esquizoparanoide. Tampouco devemos evitar agir na vida adulta como um "órfão de Kazan", expressão Russa que designa alguém que se faz de infeliz para ganhar a simpatia das pessoas.

Escolha um novo ritmo se sua vida está quase parada. Pode utilizar um metrônomo para ajustar seu compasso. Não será difícil escolher um tempo maior, já que, parado, sobra mais desse precioso componente que passa rápido.

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Andres Fernandez
Procurei me encontrar olhando no espelho, que é o outro, para saber como sou, e se fui algum dia. Mas eu estava oco por fora. Descobri que todos estávamos. Ninguém nos entregou nada quando chegamos. Não devemos pensar que a vida seja somente seguir, e que, por decurso de prazo, toda ela seria resoluta.

Aquele espelho me disse que o vazio não foi plantado por maldade, ou por falta dela. O vazio foi entregue para ser preenchido: um oco imenso do tamanho de uma oportunidade. Nele, devemos colocar tudo que o se passa e o que é possível criar. Se apenas repito minhas histórias todos os dias, sem ler ou conversar com pessoas que tenham assuntos enriquecedores, como poderei eu me enriquecer? Como poderei me tornar alguém interessante se nem a mim me interesso? Como faço para sair da minha mesmice?

Comece a ver logo uma saída desse beco, antes que a redenção busque por você. Não sairemos dessa inteiros. Alguns pedaços ficarão na memória. Esse ainda é o lugar que pesa mais e que sempre avisa que está ali. A memória não sabe se conservar em silêncio. Parece que lhe dói também os acontecimentos e precisa dividir com alguém, nesse caso, você.

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