Algumas arrumações num rosto ou corpo nos parecem lindíssimas. É o caso - porém - de se perguntar se a Natureza foi particularmente feliz nesses casos, ou se fomos programados para considerá-las assim, pela mesma razão pela qual as caranguejeiras transam com caranguejeiras, polvos com polvos - que devem se achar o máximo.
Jung diz que as mulheres que parecem mais desejáveis para os homens, são as que têm mais sinais de saúde e maiores chances de gerar filhos saudáveis.
Jung diz que as mulheres que parecem mais desejáveis para os homens, são as que têm mais sinais de saúde e maiores chances de gerar filhos saudáveis.
Bom,
quando eu era jovem, mulherões como Sophia Loren eram o que havia de mais desejável para os italianos, enquanto os franceses ficavam com a mignon feita a canivete, Brigitte Bardot. Mais atrás, o protótipo de beleza, na França, tinha sido o das gordinhas - como as do pintor impressionista Renoir, enquanto para o flamengo Rubens - no século XVII - o modelo era o das gordas grandes - que seu contemporâneo Velázquez não avalizava, como demonstra seu único nu - a “Vênus do Espelho” - que a “Maja Desnuda” - do também espanhol Goya, confirmou, um século mais tarde. E que dizer das mulheres-girafa, da Birmânia, com pescoço terrivelmente alongado por anéis dourados - quanto mais longos, mais lindas?
O conceito de beleza na Arte se altera com o tempo, como comprova o Vermeer - que chegou a provocar filas de dobrar quarteirões em torno do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – mas que só foi reconhecido uns três séculos depois de sua morte, graças a Proust, que criou um personagem maravilhado por sua “Vista de Delft”. Shakespeare, que é o centro do cânone ocidental - segundo Harold Bloom - atravessou vasto limbo até que Victor Hugo e Goethe o endeusassem. Bach e Rembrandt eram considerados conservadores, por seus contemporâneos. Modigliani e Van Gogh morreram na miséria. El Greco jamais foi aceito na corte espanhola. Depois,
de repente,
êxtases quase unânimes.
Veja-se o caso de Lucian Freud e seu realismo contundente. Rejeitado várias vezes pelo MOMA – o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque “por não ser suficientemente moderno”, fez sucesso estrondoso ao ser finalmente entronizado lá. Por que? Porque até então predominava o abstracionismo e a crítica agia - com o que não se enquadrasse nele - como grandes facções do Islã contra a representação da realidade.
Volto aos gregos, cuja arte foi considerada, até o final do século XIX, o suprassumo da perfeição, de repente tida como insípida, dando lugar, em destaque, à primitiva, africana, que foi atingir em cheio a pintura de Picasso no “Les Demoiselles d’Avignon”.
O que é,
portanto,
Beleza?
Penso que a estrutura de uma época ou de um lugar rejeita algumas formas e ritmos que vão se encaixar maravilhosamente noutra nação ou século.Segundo alguns teóricos, uma geração tende, sempre, a rechaçar o que a anterior endeusou – alguns dizem que por causa do complexo de édipo - donde uma eterna alternância de períodos “clássicos” seguidos de “barrocos” seguidos de “clássicos”.
Tudo muito subjetivo e, portanto, ... relativo.
O que me resta, visto isso, quando produzo meus "tratados poético-filosóficos" - tipo Trigal com Corvos, Vida Aberta ou 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite?
Confiar no "no saber sabiendo" - instinto - "toda sciencia trascendiendo".
Da auto b/i/o grafia em que estou tentando me compreender e ao mundo