Arthur Coleman Danto (1924—2013) nasceu em Nova York (EUA), foi crítico de arte, filósofo, escritor, pintor, jornalista, historiador de arte e professor. Suas contribuições tratam da estética analítica norte-americana. Afirmava uma possível "morte da arte", nos dias atuais. Suas análises respondem à pergunta de como se distingue um objeto de arte de um objeto funcional? Para ele, uma obra de arte — na contemporaneidade — enquadra-se em um novo "mundo artístico", a fim de intensificar as estratégias de marketing e de aumentar o impacto para o consumo. Diante disso, pode-se concluir que: se esse “mundo artístico” aceita algo como arte, então é arte! Esse imperativo afirma que "a beleza, para a arte, é uma opção, não uma condição necessária". Nesse enquadramento, diante da história da arte, as contribuições de Danto permitem afirmar que o conceito de beleza se foi e nunca mais voltará.
Essa tese está fundamentada no seu livro O abuso da beleza (2003).
As crises sociais e os novos valores morais manifestados nas vanguardas artísticas, que estavam representados em um conjunto de movimentos artísticoculturais que ocorreram após de 1960, entre essas estão a arte pop, o minimalismo e a arte conceitual, justificam esta interpretação de Danto: "As obras de arte podem parecer seja o que for incluindo objetos perfeitamente triviais". Percebe-se que tudo isso forçou uma liberdade criativa, e a função do artista se tornou um "pensar através de meios visuais, usando todos os recursos que lhe pareçam adequados". E o crítico de arte deve significar e se utilizar de "tudo o que possa ajudar ao artista a atingir uma interpretação inteligível" sobre sua obra de arte.
No seu outro livro A Transfiguração do Lugar Comum (1981), no capítulo Filosofia e Arte, Danto se distancia de uma discussão com a tradição estética por considerá-la fundamentada em premissas que não mais se adaptam à produção artística. Esse distanciamento tem seu fundamento neste argumento: “O que diferencia meras coisas de obras de arte?”. Essa pergunta foi construída para compreender o impacto do produto “Brillo Box” (1964) do pintor e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928 – 1987), a qual não possui diferenças visuais consideráveis de uma caixa comum do mesmo produto que podia ser encontrada nas prateleiras do supermercado nos Estados Unidos. Essas diferenças não são consideráveis, pois, apesar de a obra de Warhol ser construída em compensado e em tamanho maior que o original, a indiscernibilidade visual é mantida.
Andy Warhol foi um dos artistas mais influentes da segunda metade do século 20. Desafiava as interpretações e conceitos idealistas e as emoções pessoais transmitidas pela abstração. Acolhia a cultura popular e os processos comerciais para produzir trabalhos que atraíam o público em geral para o consumo de determinado produto, de forma a desafiar as expressões e definições de arte. Os seus riscos artísticos e suas constantes experimentações com temas da cultura considerada não erudita e os meios de comunicações o tornaram pioneiro na produção artística plástica. Foi a partir das obras de arte de Warhol que surgia a pergunta da filosofia da arte: “O que faz com que dois objetos indiscerníveis do ponto de vista material e ótico possam, no entanto, ser diferentes? Um ser arte, e o outro, não?”.
Com esta segunda formulação, Danto questionava: “Podemos fazer verdadeiramente filosofia da arte”? Essa nova crítica foi iniciada através da exposição, em 1964, na Galeria Stable, em Nova Iorque, das caixas de Brillo Box de Warhol. Aquelas caixas empilhadas - com a logomarca da esponja Brillo — eram dispostas como se estivessem no armazém do supermercado e não tinham diferença alguma das caixas originais, a não ser pelo material, de modo que, as utilizadas em supermercados em feitas de madeira; as de Warhol, de cartão. Enquanto o objeto considerado comum está automaticamente associado à uma finalidade, o ‘objeto-arte’ conduz um significado e seu entendimento implica explorar a ocorrências culturais que - em teoria - revelam um novo entendimento.Nesse contexto, suas peças de arte vão contra a ideia do artista como um interlocutor com os sentidos da arte, porque o conjunto de sua obra apresenta um gosto popular inserido em um produto comercial; e não pretende expor uma interpretação subjetiva do artista para com a sua própria arte.
Tendo em vista a igualdade visual entre simples coisas e algumas obras de arte, isto é, à adaptação da regra existente à situação concreta de apreciação, Danto retira a percepção e a estética da discussão sobre uma obra de arte, que é justificada a partir de que umas teorias estéticas se fundamentavam em argumentos compreensíveis para diferenciar as obras de arte de objetos banais ou das ‘coisas do mundo’. E, para substituir a estrutura afirmativa de uma estética, ele fundamenta a tese da necessidade de uma nova tendência de percepção a partir da interpretação das palavras, dos signos e da filosofia, a fim de falar da experiência subjetiva e comercial com "mundo artístico" contemporâneo. Nesse contexto, o seu livro antiestético O abuso da beleza, Danto justifica — nos dias atuais — que uma obra de arte não estimula o exercício da sensibilidade.
Essa tese é fundamentada no essencialismo histórico hegeliano. A partir disso, entendese em Danto este argumento: se não é possível separar meras coisas de obras de arte pela percepção, então, não há argumento consistente que permita incluir critérios estéticos na definição de obras de arte. A finalidade do seu livro — O abuso da beleza — é fundamentar que não fazem parte da definição filosófica de arte contemporânea um conceito de beleza, e nem de um gosto estético.