O gesto de paparicar netos, que extrapola o carisma de pai, ecoou no Dia dos Avôs.
Numa perspectiva de vida longa, quando nasce um neto, completa-se o ciclo da existência humana.
Como pesquisador de sentimentos íntimos, recolhemos os netos em gestos dos filhos, nos mistérios do amor de pai.
Numa perspectiva de vida longa, quando nasce um neto, completa-se o ciclo da existência humana.
Como pesquisador de sentimentos íntimos, recolhemos os netos em gestos dos filhos, nos mistérios do amor de pai.
O neto é o espólio recebido sem merecer. Brota da semente do filho, e desta, em replantio, germinou com novas vidas. Simples de explicar, e profundo no sentir. Tendo-o nos braços, principiamos sensações de diferentes etapas da biografia de afetos.
A escritora cearense Raquel de Queiroz afirmava que o neto “é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...”.
Nesse sentido, extrapolando horizontes do prazer, é indescritível ser avô. Avô que acolhe o neto renovado em bênçãos, como pétalas invisíveis semelhantes às luzes de todos os solares.
Quando fazemos memória de Santa Ana e São Joaquim, revelados como os pais de Maria, a mãe de Jesus, recolhemos no abraço os filhos de nosso sangue, pequenos, mas imensos em asas douradas de anjos a pontilhar os caminhos derradeiros no horizonte.
Quando surgem nuvens do esquecimento no entardecer da vida, lembranças dos filhos pequenos começam a sumir da mente, a presença dos netos é o consolo. As primeiras palavras balbuciadas, a benção do vovô, os bracinhos agarrados ao pescoço, os gracejos em nos acarinhar, as primeiras letras rabiscadas no papel, o primeiro livro a manusear..., tudo se transforma em temas para composição da história de nossa vida. Nada paga as alegrias dessas descobertas.
Nos netos, recordamos os filhos quando crianças, e buscamos imagens adormecidas da nossa infância.
Haverei de recolher meus netos em um poema, uma palavra guardada no coração. Suas brincadeiras e os sorrisos espontâneos, como pétalas de rosa azul haverão de permanecer no jardim das lembranças.
Serei para meus netos o ancião de mãos trêmulas, de cabeça branca a apontar para a aurora sorridente, a revelar gestos dos antepassados. Como avô e avó, seremos aqueles que buscam a infinda liberdade para amenizar a dor e a ansiedade na proximidade do pôr-do-sol.
Qual promessa farei aos meus netos, quando o mundo brutaliza as relações? Pergunta angustiante!
Avô quer chão fértil para o roçado dos netos, mais fecundo do que teve o filho. Terra com águo espiritual onde obtenha colheita superabundante.
Os netos confirmam nosso envelhecimento e com seus afagos noticiam a proximidade de nossa caduquez. Trazem um princípio de esperança na continuidade da descendência.
O neto é gostado com ardente afeto, esse amor que extrapola limites da paixão humana, que chega ao êxtase do bem-querer. Com brincadeiras, criam paisagem mítica e eleva a alma ao alcance cósmico.
Para as perguntas de Deus que os adultos são conseguem responder, as crianças têm a resposta.
Estes seres tão pequenos nos fazem eremitas no deserto do nosso lar. Os jardins dos avôs riem com as futuras moças e rapazes, quando os pássaros aplaudirão a todos com suas asas, os livros falarão de mundos e sonhos.
Nada distancia o avô do neto, como fez o poeta Juca Pontes que carrega o olhar ao rio da infância, visto da casa-grande, em cujas “águas do Capibaribe flutuam os sapatos do meu avô”. O poeta francês Victor Hugo acode-me com uma saudação aos netos:
Sou um avô que ultrapassou todos os limites.
Triste, infinito em sua paternidade,
nada mais sou do que um bom e velho sorriso teimoso.