Eis-me aqui presente depois de uma longa e exaustiva semana para deixar pública minha gratidão em relação à Sua Excelência, o Arcebispo da Paraíba. Quão nobre de sentimentos e também quão corajoso foi esse prelado (se é que assim a ele posso me ferir) em atender ao rogo daqueles que vivem sob o manto protetor de suas preces e bênçãos. Súplicas que chegavam eivadas de angustias e apreensões. Fiz-me à revelia, procurador dessa gente e daí minha ousadia em escrever uma carta, publicá-la em nossos veículos de comunicação e endereçada à nossa maior autoridade eclesiástica? Por quê? Vou explicar.
Richard Müller
Nem parece que estivemos à beira de dias belicosos de braveza e cólera como naqueles tempos idos quando liberais e perrepistas andaram se matando uns aos outros. Só que o inimigo agora era todo mundo e ao mesmo tempo ninguém. Já pensaram no caos que nos aguardava?
A História não prevê exceções, mas sabe que um acontecimento, banal que seja, pode alterar seu curso. Era esse meu temor.
E, por falar em revoltas populares, já tivemos a do “Quebra-quilos”, a Revolta de Princesa”, participamos da Revolução de 1817, da Praieira e até a dos Mascates. A Coluna Prestes andou dando uns tiros por aqui e levando uns também. E a Revolução de 30, não teve seu nascedouro em nossa Paraíba? Só faltava agora a historiografia oficial registrar que na terceira década do século XXI aconteceu na cidade de João Pessoa a Revolta da Macaca. Já pensaram? Ia ser uma desmoralização. Mas quase aconteceu.
CC0
Mas, quando tudo parecia perdido, as redes sociais começaram anunciar: Monga chegou! Nem parecia verdade. Chegou com pompas circunstâncias, com instalações remodeladas e doida para dar um susto em que se dispusesse adentrar naquela cela assustadora. Foi um alvoroço. Até foguetório teve. A chuva deu uma trégua (notaram isso?)
F. Zurbarán
Até o poeta Irani Medeiros, agnóstico juramentado com carteirinha registrada, chegou a comentar na Livraria do Luiz.
_ Foi a reza do bispo!
Mesmo sem respeitar a hierarquia eclesiástica havia muita sinceridade nas palavras desse renomado bardo. Tarcísio Pereira está recolhido, afiando o cálamo para dar início à escrita de sua inusitada comédia teatral: O Milagre da Monga. E promete encená-la no adro da catedral. Com esse texto é de se presumir que vá abocanhar as melhores premiações teatrais do país: o Shell e o Bibi Ferreira. Acredito piamente nisso.
Piotr Stachiewicz
No entanto, cabe o registro, que só foram indiferentes ao já decantado Milagre da Monga, a turma da “bagaceira”. Que turma é essa? São aqueles hereges que se instalam nos arredores de onde ocorre a Festa das Neves, encontram uma birosca e enchem o chifre de cachaça, aliviam por ali mesmo na rua suas necessidades. Não são tementes a Deus como este escrevinhador e os leitores e leitoras desta gazeta. Deixemos essa gente de lado.
Encerrando, espero que esses meus escritos tenham sido portadores da gratidão de nossa gente à Sua Excelência. Aproveito para pedir que estenda suas bênçãos a todas as ovelhas de seu rebanho, inclusive a esta aqui que está no maior sufoco.