Eis-me aqui presente depois de uma longa e exaustiva semana para deixar pública minha gratidão em relação à Sua Excelência, o Arcebispo da Paraíba. Quão nobre de sentimentos e também quão corajoso foi esse prelado (se é que assim a ele posso me ferir) em atender ao rogo daqueles que vivem sob o manto protetor de suas preces e bênçãos. Súplicas que chegavam eivadas de angustias e apreensões. Fiz-me à revelia, procurador dessa gente e daí minha ousadia em escrever uma carta, publicá-la em nossos veículos de comunicação e endereçada à nossa maior autoridade eclesiástica? Por quê? Vou explicar.
Estávamos à beira de uma conflagração sem precedentes, quando a pira da intolerância, da desesperança aguardava por uma despretensiosa faísca para se acender. Mas as orações de nosso arcebispo junto a Ele ou outras possíveis intervenções junto às autoridades locais fizeram a paz entrar por portas, janelas e se instalar no coração de nossa gente. Tudo retornou ao curso natural dos acontecimentos.
Nem parece que estivemos à beira de dias belicosos de braveza e cólera como naqueles tempos idos quando liberais e perrepistas andaram se matando uns aos outros. Só que o inimigo agora era todo mundo e ao mesmo tempo ninguém. Já pensaram no caos que nos aguardava?
A História não prevê exceções, mas sabe que um acontecimento, banal que seja, pode alterar seu curso. Era esse meu temor.
E, por falar em revoltas populares, já tivemos a do “Quebra-quilos”, a Revolta de Princesa”, participamos da Revolução de 1817, da Praieira e até a dos Mascates. A Coluna Prestes andou dando uns tiros por aqui e levando uns também. E a Revolução de 30, não teve seu nascedouro em nossa Paraíba? Só faltava agora a historiografia oficial registrar que na terceira década do século XXI aconteceu na cidade de João Pessoa a Revolta da Macaca. Já pensaram? Ia ser uma desmoralização. Mas quase aconteceu.
Estudantes ameaçavam greve por tempo indeterminado. O comércio popular prometia fechar as portas. Motoristas de nossos coletivos preparavam uma operação tartaruga. Serviços alternativos de transporte iam se recolher às suas garagens. Ali no Baixo Roger, a população prometia fazer uma grande fogueira sobre a linha férrea e as 12 estações de Santa Rita a Cabedelo iam ficar às moscas. Feiras livres? Nenhuma! As casas legislativas pretendiam estender seus recessos até a normalização dos acontecimentos. O pau, como dizem, ia comer na casa de Noca.
Mas, quando tudo parecia perdido, as redes sociais começaram anunciar: Monga chegou! Nem parecia verdade. Chegou com pompas circunstâncias, com instalações remodeladas e doida para dar um susto em que se dispusesse adentrar naquela cela assustadora. Foi um alvoroço. Até foguetório teve. A chuva deu uma trégua (notaram isso?)
A Festa em homenagem à Nossa Senhora das Neves estava salva. Nossa padroeira, lá de cima da catedral, parecia sorrir de alívio e felicidade. Foi Ele, lá de cima, com certeza, que ouvindo as preces do nosso abençoado pastor deu um jeitinho da situação se normalizar e fez que assim, sem mais nem menos, Monga aparecesse.
Até o poeta Irani Medeiros, agnóstico juramentado com carteirinha registrada, chegou a comentar na Livraria do Luiz.
_ Foi a reza do bispo!
Mesmo sem respeitar a hierarquia eclesiástica havia muita sinceridade nas palavras desse renomado bardo. Tarcísio Pereira está recolhido, afiando o cálamo para dar início à escrita de sua inusitada comédia teatral: O Milagre da Monga. E promete encená-la no adro da catedral. Com esse texto é de se presumir que vá abocanhar as melhores premiações teatrais do país: o Shell e o Bibi Ferreira. Acredito piamente nisso.
Enfim, no meu modesto entender, sem as preces efusivas e poderosas de Sua Excelência, Monga não teria aparecido. Ah, Monga, você que coloca a Teoria da Evolução às avessas (pois no caso é uma mulher que se transforma em uma macaca e não o contrário como dizem por aí), não nos prive de sua simiesca figura no próximo ano. Foram muitos esforços e orações para trazê-la.
No entanto, cabe o registro, que só foram indiferentes ao já decantado Milagre da Monga, a turma da “bagaceira”. Que turma é essa? São aqueles hereges que se instalam nos arredores de onde ocorre a Festa das Neves, encontram uma birosca e enchem o chifre de cachaça, aliviam por ali mesmo na rua suas necessidades. Não são tementes a Deus como este escrevinhador e os leitores e leitoras desta gazeta. Deixemos essa gente de lado.
Encerrando, espero que esses meus escritos tenham sido portadores da gratidão de nossa gente à Sua Excelência. Aproveito para pedir que estenda suas bênçãos a todas as ovelhas de seu rebanho, inclusive a esta aqui que está no maior sufoco.