Uma das minhas antigas quizilas com a crítica literária sempre foi a de não encontrar o cronista Genolino Amado entre os elencados nas ...

Eu não estava só

Uma das minhas antigas quizilas com a crítica literária sempre foi a de não encontrar o cronista Genolino Amado entre os elencados nas antologias brasileiras do gênero. O cronista que chegava a nossas páginas para adoçar as noites compridas do revisor em A União, mesmo já iniciado nas “Sombras que Sofrem” de Humberto de Campos, da biblioteca de Alagoa Nova (ia dizendo bibliotequinha de A. Nova - que injustiça, que grossa ingratidão!).

Genolino Amado ▪ 1902—1989Arq. Nac.
Pois bem. Devo a esse cronista sem referência maior na crítica, mesmo na mais criteriosa e inteira de um Afrânio Coutinho, a alternativa da minha preguiçosa dispersão literária. A União de Juarez Batista enxertava esse doce “similares” no pão seco das nossas noites. E nele me adocei até hoje.

Mas onde está Genolino que o glamour desculpado de um Rubem Braga, de um Sabino, de um Drummond encobriu?

Não foi só omitido. Numa memória literária, só como exemplo, o grande mestre Álvaro Lins (logo quem, Senhor Deus?!) o descompõe: omite seu nome no texto, limitando-se a chamar o leitor de “Vida Literária” para as inicias G.A. ao pé de página.

Por que isso? Por acaso, procurando outra coisa, dou com Genolino na Enciclopédia Literária do grande Afrânio. Dez linhazinhas somíticas, não mais que referência seca ao jornalista, ensaísta, professor, tradutor e (matando a charada) chefe da Censura Teatral e Cinematográfica de São Paulo, redator-chefe do Departamento de Propaganda do Rio de Janeiro. A crítica não o perdoou.

E baixei a cabeça. Quanta gente boa, eu mesmo escanteei da minha leitura por uma miséria dessas na biografia! Foi preciso ler “Nordeste”, o poema em prosa de Gilberto Freyre, para adentrar sua “Casa Grande & Senzala”. Seu salazarismo me impedia. Gustavo Corção, um dos escritores mais lidos e influentes, não conseguiu prender-me ao romance que o consagrou, “Lições de abismo”. Seu catolicismo não parecia uma religião,
Gustavo Corção ▪ 1896—1978 GGN
uma doutrina, mas um fanatismo ideológico. E me senti excluído de sua leitura.

Vem o tempo e, nas “Horas de Leitura” de Brito Broca, tocando nos velhos “folhetins” de França Júnior, um dos principais precursores da crônica de costumes, lá vem Genolino Amado como “um dos maiores escritores do gênero em nossos dias”. Exatamente os meus dias de aliciado por um texto que me custava entender como era subestimado.

Tempos depois encontro na Grafset, convocada para assessorar a editora na publicação de um atlas de Sergipe, uma professora universitária que se abre comigo quando lhe falo no historiador Manuel Bonfim: “Sua terra, como a minha, só perde em estrelato literário para o Maranhão.” — massageei de entrada. Ela não se deu por satisfeita, e entre Bonfim, Silvio Romero e Gilberto Amado, levanta-se eufórica e exaltada: “Há um, da minha paixão, que você não conhece: Genolino Amado, irmão de Gilberto, este muito mais famoso mas não tão amado quanto o cronista dos 'Inocentes do Leblon'... que você não conhece” — quanto ela se enganava!

Não sei hoje a que atribuir, se à influência universitária ou aos novos tempos, vertiginosos em suas mudanças gerais, a que não fica imune nada do espírito ou do comportamento.

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