a permanência do fotógrafo (Poema dedicado à memória do poeta Eurico Vieira Carneiro a partir de uma foto minha clicada...

Brando fogo das palavras

poesia paraibana sergio castro pinto

a permanência do fotógrafo
(Poema dedicado à memória do poeta Eurico Vieira Carneiro a partir de uma foto minha clicada por ele) por mais que jaza sob sete palmos, o insepulto olho do fotógrafo morto ainda me espia: abre-se (zoom!) em forma de fotografia.
o preto cosme, pintor de paredes
o preto cosme caiava como quem dispara tiros a esmo ou como um bêbado que erra o prumo e salpica-se de cal estrela-se de cal enluara-se de cal caiando-se a si mesmo qual fosse um muro branco de susto emparedando um preto
seu isidoro
seu isidoro era eletricista e a sua barba hirsuta hirta era um rolo de fios desencapados soltando faíscas seu isidoro era uma pilha um surto um curto um longo circuito atritando-se com a vida (três poemas do livro "brando fogo das palavras", ainda inédito)


quase em braille
míope, extravio viagens em valises e a cidade tateio quase em braille. míope, não sei em que lentes deixei esquecidas as antigas paisagens.
geração 60
a carta branca do montilla não era de alforria o papagaio era calado o cuba-libre nos prendia e em barris de carvalho o tempo envilecia
os pobres
as costelas dos pobres são móbiles de calder ou armas brancas disfarçadas na bainha da carne? as costelas dos pobres são adagas do mais puro aço. aço temperado na caldeira dos trópicos. desembainhadas, as costelas dos pobres são um osso duro de roer.

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