Será que já vinha seco e eu não prestara atenção? Falo do rio Mamanguape, que deu nome à cidade do poeta Carlos Dias Fernandes e fortuna usineira aos irmãos Fernandes, remanescentes da aristocracia rural e do comércio atraídos pelas várzeas do rio, exportando açúcar e algodão pelo seu próprio porto, o Salema.
Rio Mamanguape, que supriu de águas constantes a agricultura e, particularmente, o poder político do meu circunspecto e saudoso amigo José Fernandes de Lima, um radical do seu partido que conteve a caneta diante de meu nome (“Esse, não!”)
Wikipedia ▪ Frederico
“Esse não” se referia a um jovem pardo com quem o deputado e presidente da AL vinha conversar na bancada de imprensa sobre as nossas experiências paraibanas de leitura. Ajudou-me a investigar, completando pesquisa de Eduardo Martins, sobre nascimento e formação do negro José Maria dos Santos, um paraibano notável que emigrou para o sul, fez-se historiador de referência obrigatória, completamente desconhecido dos nossos letrados de então.
Foi agora de quem me lembrei, passados tantos anos, encontrando um envelope com telegrama de parabéns dos meus anos em 1978, ano, para mim, de angustiante incerteza.
Não me lembro, agora, de que obra, de que estrada, de que referência em pedra e cal deixou esse militante cativo da política partidária do seu Estado. Era do PSD fundado na redemocratização de 1946. Vestia branco, só abrindo exceção, nos dias de gala, para um terno azul-escuro de casimira inglesa, obra-prima de Adonias, alfaiate da elite endinheirada de João Pessoa; êmulo de Bento, o Alfaiate, imigrante de Campina.
Raw
Sim, que obra pública marcante terá deixado esse homem ora lembrado? Que Liceu, que grande estrada, que palácio faz lembrar José Fernandes de Lima?
Brasília, 1960 ▪ ESQ ⇀ DIR: Juscelino Kubitschek (presidente da República), José Fernandes de Lima (governador da Paraíba) e Rui Carneiro (senador).Wikipedia ▪ Frederico
Um telegrama velho encontrado a esmo não chega a ser notícia. Mas pode ser crônica, um momento de vida, e até justificá-la.