Numa cidade parecidíssima com João Pessoa, onde tudo era tão igual que ali também habitavam os falsos ricos, foi noticiada a realização de uma festa espetacular. Aquele evento despertou um frisson jamais visto em toda a cidade. Até o cerimonial era tão sofisticado que foi contratado no sul do país.
Um grupo de amigos decidiu fazer uma brincadeira, um tipo de teste, para medir até onde os falsos ricos iriam na ânsia de serem convidados. Escolheram um cidadão que atendia aos pré-requisitos estabelecidos para o que pretendiam;
Levering, 1905
Os tais amigos fizeram com que a secretária de um deles, que tinha um belíssimo sotaque gaúcho, ligasse para o Marquês e, identificando-se como cerimonialista da festa, anunciou que seu convite chegaria por portador especial, aviso necessário para providenciais básicas, como a compra do vestido da madama, reserva de cabelereiro e maquiador e muito mais. já sacrificado personagem endividou-se até não mais poder; para a esposa um vestido vindo de São Paulo. Para ele uns sapatos de verniz, terno Ricardo Almeida e até as meias comprou-as de seda.
À medida que se aproximava o dia da festa aumentava a angustia do fulano ante a ausência do convite, mesmo periodicamente recebendo telefonemas da “cerimonialista” dando conta da chegada iminente da invitation. Dois dias antes da data ela ligou-lhe dizendo que o seu convite não conseguira ser entregue porque o endereço não conferia.
Levering, 1906
Porém os amigos sublimaram a trama; logo cedo da manhã seguinte deixaram na sua caixa de correio um convite não utilizado por um deles, que viajara.
Até hoje o Marquês de Cagalhufas tem certeza que foi convidado e amaldiçoa o cerimonial sempre que pode, para constrangimento dos que ouvem seus lamentos e sabem da verdade.
Essa história é verdadeira e me lembra a “Bola de sebo” do colega escritor Maupassant.