Embora não achasse ruim a tal da infância, boa também não achava.
Acho lindo quando vejo crianças alegres, espontâneas, divertidas, fazendo criancices. Mas não fui assim. Eu observava, percebia...
Aprendi a ler antes de ir pra escola.
Gostava de livros e de música. E tinha desprezo por bolas e bicicletas (hoje, amo bicicletas!).
Acho lindo quando vejo crianças alegres, espontâneas, divertidas, fazendo criancices. Mas não fui assim. Eu observava, percebia...
Aprendi a ler antes de ir pra escola.
Gostava de livros e de música. E tinha desprezo por bolas e bicicletas (hoje, amo bicicletas!).
O corpo infantil era pra mim uma prisão. Eu tinha vontade de tanta coisa que só poderia fazer quando crescesse...
Meio dia, sol quente e rua deserta na cidade do interior.
O que é que estou fazendo aqui? Onde é o mundo?
O mundo para mim era o mar, o céu do avião, o longe. A foto da Acrópoles no livro de história (quase morro de emoção na primeira viagem à Grécia).
Tinha também o mundo de dentro. Pensado, inquieto.
Eu tinha mesmo de ser daquele jeito? Aquele desenho já feito...
Tinha tanta coisa dentro de mim.
Eu não cabia dentro de mim. Ainda não sei se caibo.
A gente ganha uma vida tão cheia de possibilidades. Eu gosto de todas. Adoro gente doida. Essas pessoas que abrem portas, mostram alternativas. Cantores de rock, poetas, escritores, pintores, moradores de rua, artistas de circo...
Virei psicoterapeuta!
Para muita gente, felicidade é uma leveza.
Para mim é uma intensidade. Uma voltagem, uma consciência de estar na vida, sempre meio a ponto de explodir!
Um deslumbramento, uma surpresa, um choque!
Nada disso cabia, ao meio dia, numa cidadezinha do interior do fim do mundo, embaixo de um pé de algaroba.
