Assistindo a um vídeo de uma senhora beirando 90 anos, sobre a velhice e o envelhecer, ela constata que, nessa fase da vida, as referê...

Diminutivos

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Assistindo a um vídeo de uma senhora beirando 90 anos, sobre a velhice e o envelhecer, ela constata que, nessa fase da vida, as referências já foram perdidas, todo mundo já morreu e os vivos estão ocupados. Perde-se também os grupos sociais, diz ela, citando o seu intitulado grupo “semi-novas”. A senhora ressalta que as pessoas vão morrendo, mas que é preciso renovar as amizades e expandir os vários conteúdos: literatura, bate papo, natação. Há de se ter conhecimento, também, e de estar sempre lendo, estudando e participando dos eventos. Estar atualizada. Conhecimentos abrangentes.
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Marco Verch
Conversar aumenta a autoestima! E isso é preciso.

Fiquei pensando nessa senhora tão sábia. Claro que lembrei da minha mãe que fez isso tudo antes e depois de ficar viúva aos 67 anos. Grupo da praia, dos concertos de música, do cinema, da caminhada, da calçadinha... Penso em mim também. Gosto de conversar e tenho, sim, grupos de amigas de infância e das mais recentes. A gente releva muita coisa para ter uma inserção no afeto de quem já se conhece. Fazer amizade nessa altura da vida é difícil. Todos já têm as suas famílias, amigos, grupos e idiossincrasias. Quando se envelhece, há de se ter muita humildade para reconhecer que tudo nessa vida passa, inclusive nós. O auge já se foi longe. Falo do auge da juventude e dos 15 minutos de fama a que todos têm direito na vida.

Sempre tive o olhar enviesado para as mulheres que não possuíam vida própria e que, na velhice, pegavam carona na vida dos filhos e netos. Uma questão muito cultural do Nordeste. Interagem todo dia, agregadas, passeios juntos a toda hora. Nem os filhos criam independência, nem as mães voam para longe do ninho. Os pais? Lendo o jornal ou assistindo o futebol. Claro que estou exagerando, pois a vida muda e a dinâmica do mundo e da sociedade também, com a graça de Deus. Hoje não critico mais. É uma forma de sobrevivência da velhice. E por falar em Deus, outras mulheres são religiosas, então, na velhice, se dedicam mais ainda à hóstia consagrada, às missas, catecismo, trabalhos voluntários etc.
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Svenn Sivertssen
Outras, desportistas, continuam a jogar, nadar, correr, e com isso criam os grupos de conversa, viagem e vinho. Há de se gostar de bicho e plantas também. Cuidar do jardim é essencial. E um miau e um au au fazem a felicidade do mundo todo hoje. Invejo todos os que amam cachorros e gatos em casa. O que não é o meu caso. Gosto dos bichos na floresta. Não tenho esse desprendimento e dedicação.

Eu, que não jogo nada, nem sou religiosa, nem tenho uma vida grudada aos filhos e neta (embora ame vê-los e acarinha-los), fico a ver um pouco os navios. Sim, tenho conhecimento e, embora já tenha perdido muita gente da minha geração, ainda tenho referências. A sabedoria está no movimento das amizades. É preciso aceitar convites, convidar, estar atenta, regar os amigos e ter uma vida interior apaziguada. E gostar de ficar em casa sozinha. A arte? Ajuda muito. Mas é preciso saber fazer as coisas sozinha. E eu pensava que, quando me aposentasse, iria ganhar os mundos. Ocorre que o mundo aumentou, junto com as guerras e a pandemia, e a disponibilidade também. A prontidão é tudo! Já dizia Hamlet. E ela nem sempre está ali esperando o seu momento.

Falam mal das redes sociais. Eu sou daquelas que usam e abusam. Na pandemia pude assistir a lives, shows, peças, acompanhar notícias e igualmente não me sentir tão só. Isso é fake? Acho que não. Mostro o melhor de mim? Claro! Quem gosta de lamento em público? Mas sou daquelas que sabe gemer as dores nas horas de precisão. Ultimamente tenho gemido no Pilates, na aula com personal e na fisioterapia. É, minha gente, o corpo envelhece, as articulações endurecem e a gente corre atrás.

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Marco Verch
Uma coisa a mais eu acrescentaria ao vídeo sobre envelhecer: parem de usar o diminutivo com os velhos! Diminutivo só no amor e nas alcovas. Fui ao oculista dia desses, e naquele exame preliminar, o técnico falou: “como vão esses olhinhos? Vamos ver esses olhinhos? Ponha aqui mais pertinho!”. Quase que respondia: “para te olhar melhor Sr. Doutorzinho”. Depois, no cardiologista, o médico: “chegue mais pertinho de mim, chegue”, vi que era respeitoso (em qualquer lugar do mundo poderia ser confundido por assédio), mas, por conta dos meus cabelos brancos, eu já estava no diminutivo.... Acho que vou pintar os cabelos!

Vou ali escutar o áudio da senhoria de novo para não esquecer o dever de casa!

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  1. Ângela Bezerra de Castro10/7/22 18:50

    Lendo esse texto de Ana Adelaide, concordo que o diminutivo utilizado, agora, para os velhos, perdeu realmente o tom afetivo que caracterizava seu uso ,para denotar uma falsa delicadeza onde se revela um triste preconceito. Infelizmente nossa sociedade utilitarista enxerga no idoso um ser ultrapassado e imprestável, apenas. A imagem do que está desenhado nas vagas de estacionamento. Mesmo nesta prestação de serviço, o preconceito falou mais alto.

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