Excelentíssimo Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba.
No trigésimo primeiro dia do sétimo mês, do segundo milésimo e vigésimo segundo ano da Graça do Senhor, faço-me aqui respeitosamente presente para solicitar o que se segue:
Estou ocupando uma coluna deste poderoso rotativo para uma súplica junto a Vossa Excelência. Esclareço humildemente que me faço procurador de uma fatia considerável daquelas almas que estão sob a égide de nossa Arquidiocese. Sim; Excelência, estou aqui em nome desse rebanho numeroso que vê no destinatário desta missiva a autoridade máxima capaz de aplacar essa aflitiva perspectiva de uma ausência impensável no transcorrer dos dias quando festejamos o 437º aniversário de nossa Filipeia. Refiro-me ao tempo quando ocorre a Festa das Neves, que acontece no entorno da basílica de nossa padroeira.
No trigésimo primeiro dia do sétimo mês, do segundo milésimo e vigésimo segundo ano da Graça do Senhor, faço-me aqui respeitosamente presente para solicitar o que se segue:
Estou ocupando uma coluna deste poderoso rotativo para uma súplica junto a Vossa Excelência. Esclareço humildemente que me faço procurador de uma fatia considerável daquelas almas que estão sob a égide de nossa Arquidiocese. Sim; Excelência, estou aqui em nome desse rebanho numeroso que vê no destinatário desta missiva a autoridade máxima capaz de aplacar essa aflitiva perspectiva de uma ausência impensável no transcorrer dos dias quando festejamos o 437º aniversário de nossa Filipeia. Refiro-me ao tempo quando ocorre a Festa das Neves, que acontece no entorno da basílica de nossa padroeira.
Antes, aceite minhas escusas, caso tal lacuna tenha já sido preenchida até a data da publicação desta missiva aberta aos leitores de nossa respeitável gazeta. Por exigência da redação, a epístola em questão foi elaborada no último dia do mês de julho para publicação três dias depois. Pelo que possa ocorrer nesse intervalo de tempo, entre a escrita e a edição, é que reitero minhas desculpas, caso Vossa Excelência julgue que eu as mereça.
Excelência, é possível perceber este clamor vindo dos quatro cantos de nossa cidade. No Mercado Central não se fala de outra coisa. Nas feiras de Jaguaribe e em outras a pauta também é essa.
Fui aparar minhas cãs no Salão Tabajara, ali no Mercado da Torre e Picuí, o homem da tesoura, não parava de reclamar. Um amigo meu, homem das leis e devidamente togado, argumentou que as ordenações jurídicas não poderiam prestar socorro diante de tão infausta ausência.
Nas barraquinhas da praia, entre um copo e outro, a conversa é a mesma. Aqueles filhos de Apolo e Afrodite que desfilam suas bonitezas pela calçadinha da orla, interrompem suas marchas ou travam as rodinhas de seus patins para lamentar esse tão carpido desaparecimento. Está difícil, Excelência.
Não pense que é só isso. Um outro amigo, médico socorrista no Hospital de Trauma, contou-me que atendeu um paciente baleado que antes de entrar em coma o infeliz clamava: “Será que este ano ela não vem?” O pobre esculápio não soube o que responder.
Nas redes sociais, alunos das escolas pública e privada ameaçam um movimento paredista, caso o problema não seja sanado antes do 5 de agosto. Imagine Vossa Excelência o transtorno.
E os motoristas do transporte público que andam de fuxico fazendo ameaças de uma operação tartaruga? Nem quero pensar nisso.
Nas filas dos supermercados, imagine qual o tema. Nos salões de beleza (o nome mais apropriado seria, salão de reforma) a maledicência deu uma trégua. A vida alheia está provisoriamente em recesso para dar lugar à pergunta: Cadê ela?
Pois acredite, meu abnegado pastor de almas, até no Bar do Lulinha, onde nossa intelectualidade costuma molhar a palavra, o que se viu no último sábado foi um ambiente de profunda consternação. Ninguém acreditava no que estava acontecendo. Mas estava. Consegue Vossa Excelência imaginar um Concílio Ecumênico sem a presença de Sua Santidade? E a Festa das Neves sem ela? Entendo essa lamúria toda. Durante anos ela nos assustou, mas também nos divertiu. Os meninotes, os petizes, os adolescentes, mesmo os adultos e criaturas outoniças como eu e Vossa Reverendíssima pessoa, já a vimos pelo menos uma vez. Daí o meu apelo. Sei que a parte profana desse evento foge à sua responsabilidade. Mas quem aqui é mais próximo Dele? Quem melhor pode ser mensageiro de nossas preces? Vossa Excelência, claro que sim. Veja o que nosso iluminado pastor pode fazer por suas ovelhas. Rogo humildemente também que use sua influência junto às autoridades.
Ela não pode, assim do nada, ter desaparecido.
Vamos encerrando com a pergunta: Por que ela ainda não apareceu?
A Festa das Neves sem ela, Monga, não pode ser chamada de festa. O mistério de como uma mulher bela (ou quase isso) se transforma em uma enorme macaca, alimentou o imaginário de muitas gerações. Mesmo sabendo do susto, a criançada, os mancebos exibidos e as mocinhas namoradeiras teimavam em entrar naquele contêiner e soltar seus gritos de pavor e seus ais de alívio quando escapavam daquela tosca armadilha.
Sem ela? Festa das Neves? Nem pensar.
Excelência, nesses tempos sombrios, nossa gente precisa de muita oração e um pouco de alegria. Sua alma serena e cristã. certamente entenderá esta minha súplica. A volta dela, em seu lugar de costume, trará paz, mistério e alegria. Tudo retornará à normalidade. Faça com que tragam Monga de volta!
Monga, volta Monga!
Sem mais para o momento, aceite meu efusivo e respeitoso abraço.
Luiz Augusto Paiva