Andei 315 quilômetros em 10 dias percorrendo o caminho de Santiago de Compostela pelo interior da Espanha. Temperatura matinal média de 6 graus, chuvas
insistentes, ladeiras que eram subidas e descidas varias vezes por dia em
altitudes de até 1.500 metros. A secreção veio como uma velha amiga do peito, a
respiração tornando-se mais difícil e a cada passo a incerteza de que haveria
condições de dar o passo seguinte. Muito cansaço. Cada etapa vencida mostrava o
quão distante eu estava do que havia planejado.
A partir do sexto dia de caminhada o corpo ia sozinho. Às vezes eu tentava apressar o passo, porém o eixo central da rebimboca da parafuseta que deve existir em nosso interior travava qualquer movimento que não fosse de seu controle.
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Outras coisas tive que adaptar, como os tempos de caminhada, que estimei em até 5 horas por dia, mas devido às dificuldades do caminho chegaram a quase 9 horas diárias.
Naquela solidão imensa eu pensava na história do “camiño”. O apóstolo Tiago, que depois da crucificação do Cristo participou da evangelização na Palestina, foi decapitado em 44
Ángel Encinas Carazo
Naquela imensidão de história e dores, de enorme cansaço e desconforto, num determinado momento minha cabeça mudou meu corpo. Não sei bem o que aconteceu, porém me senti muito leve, uma tranquilidade enorme me invadiu. Nada sobrenatural, apenas o esvaziamento de um peso que eu levava dentro de mim sem saber. E aí tudo fluiu extraordinariamente. Acho que voltei melhor e espero continuar assim.
Do que me importa fiz o melhor caminho.
Hoje me sinto em paz. Plenamente em paz.