Não há como tapar o Sol com a peneira. A velhice nos empurra para a síntese, para o essencial. Viver, simplesmente viver, respirar, é o que importa. Alguns velhos acham que tudo já foi visto, que tudo já foi dito, e que não se deve perder mais tempo com as coisas do mundo. É o momento do “silêncio das línguas cansadas”, na expressão do compositor Zé Rodrix, em uma de suas belas canções – Casa no campo.
Mas a velhice tem lembrança farta. E vasculhar a memória de tantos anos parece ser algo que retira o velho da prostração, do desânimo, daquela “interminável espera” que --todos sabem- um dia acaba.
Estou ‘posto em sossego’, numa manhã ensolarada de Maio, quando recebo o convite de Martinho Moreira Franco para escrever algo sobre Gonzaga Rodrigues, que, para felicidade geral da Nação Tabajara, completava 80 anos em 21 de junho.
Primeiro impacto: Gonzaga completando 80 anos! Teria que falar de sua volta ao mundo em 80 anos? Não teria fôlego para tanta História. Então, resolvo falar do Homem Gonzaga, espécie de farol para uma banda da Paraíba.
Martinho desliga e começa o ‘flashback’. Conheci Gonzaga ainda garoto, na Assembléia da praça Aristides Lobo, suponho que no começo dos anos 60. Foi assim: o jornalista sai do gabinete do deputado Chico Souto, meu tio. Entro em seguida, e aí vem a apresentação do velho Chico: “Esse senhor que acaba de sair é meu grande amigo, uma das inteligências da Paraíba”. Daí, não perdi mais Gonzaga de vista, entrei na plateia do grande jornalista e escritor.
Trabalhamos juntos na velha Cinep de guerra. Mais perto dele, pude perceber o tamanho de sua grandeza. O que posso dizer sobre Gonzaga a essa altura da vida? Direto ao assunto: é um pai para mim. Da escolha da palavra certa à valorização do silêncio, tudo ele me repassou com a generosidade que os pais reservam aos filhos. E é com emoção de filho que celebro os 80 anos de Gonzaga Rodrigues.
Nota do autor - Crônica publicada no Correio das Artes, nas celebrações dos 8O anos do jornalista e escritor Gonzaga Rodrigues.