Emplaquei 55. Foram muitos passos na superfície dessa redonda, e já houve algumas mudanças: a orelha cresceu e os sons diminuíram; umas quinhentas pintas e manchas apareceram; o cabelo embranqueceu; os olhos pediram óculos e o raciocínio perdeu potência, não passa de jeito nenhum dos 80 km/h. Mas não foram só perdas: ganhei também barriga, rugas, dor no ombro e um pouquinho de descrença na humanidade, mas, como diz Fabiola Lugão,
“muitos oceanos já rolaram por aqui” e muitos hão de rolar, e um dia a gente aprende.
Enfim, estou por aqui, de olhos abertos para ver o que há de vir... e que venha. Quem vive, mesmo que não queira, ganha, pelo menos, a tal da experiência. E experiência é igual a prova de recuperação: você já estudou a matéria, fez prova e se deu mal; agora tem outra chance e, teoricamente, você está mais preparado para tirar um 10.
A experiência ensina que o leite ferve justamente no momento que você para de vigiá-lo, que torradinhas queimam num piscar de olhos, que é melhor previnir que remediar, que não se deve elogiar o burro antes de passar no atoleiro, que papagaio que acompanha João-de-barro vira ajudante de pedreiro, que quem planta vento colhe tempestade e que somente as mulheres lembram o que você disse naquela briga de início de namoro, que você estava de tênis branco, na porta da casa de fulana, há 35 anos.
Bela experiência de vida! Só coisas quase úteis. Mas mesmo que eu não tenha aprendido muito nesses 55 anos, oportunidades não faltaram. Até a formiga dá aula pra gente, e o marimbondo então, nos ensina, da pior maneira possível, que não se deve jogar pedra na casa dos outros.
E o assunto sério, que eu queria escrever aqui, vai ficar pra depois, porque essa história já foi longe demais. E, pela minha experiência, ninguém vai ler até o final se eu não parar agora. A gente precisa se renovar...