Há alguns dias o Reino Unido parou para assistir às ...

Crepúsculo real

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Há alguns dias o Reino Unido parou para assistir às comemorações dos 70 anos de reinado da rainha Elizabeth II. A veneranda senhora tem sido admirada pelo equilíbrio e a compenetração, virtudes que faltam a outros membros da família real. Ela é uma das razões para a permanência da monarquia na Inglaterra. Vi cenas da cerimônia, que alguns consideraram o apogeu de um conto de fadas.

Histórias de príncipes e princesas habitam nosso imaginário. Remetem-nos a uma época de fausto e nobreza, em que jovens garbosos desposavam moças muito finas. Lembro-me de em criança ter lido uma fábula em que uma donzela tinha de provar que era mesmo princesa.
Billy Wilson
Deitaram-na sobre vários colchões, embaixo dos quais havia um caroço de azeitona, e a moça tinha que notar esse detalhe. Notou, e não conseguiu dormir. Só um corpo acostumado ao conforto dos palácios perceberia incômodo tão sutil.

Veio a República e “embruteceu os espíritos”, dando um golpe na fidalguia. Ela permitiu o acesso de mais gente ao ensino, à arte, à educação, mas reduziu o espaço para o ócio contemplativo. Ao burguês interessava mais o dinheiro do que os exercícios desinteressados do corpo e do espírito. No rastro da burguesia vieram a industrialização e a cultura de massa. Nesse novo contexto, a azeitona entraria melhor como símbolo dos enlatados do que como prova de uma delicadeza que não existia mais.

Mas persiste a memória desses tempos áureos. A família real britânica é um anacronismo, porém um anacronismo que faz sonhar. Custa um dinheirão ao Estado e se mantém por apego menos à tradição do que à fantasia. E também por às vezes render boas histórias, com traições, sacrifícios e tragédias.

Quem não se lembra da imagem anorética de Diana, imolada pela secura e traição de Charles? Na época ela dividiu opiniões; uns a achavam uma santa, que ajudava os pobres; outros, uma libertina que não tinha nada que cobrar do príncipe na mesma moeda, ou seja, traindo-o também. A morte em Paris, perseguida pelos paparazzi, consagrou-lhe a imagem de vítima.

John Pannell
Com a morte de Elizabeth, Charles deverá assumir o trono. O seu carisma está longe de se nivelar ao da rainha, de modo que dificilmente obterá a mesma popularidade. Mas está cedo para pensar nisso. Por enquanto os britânicos ainda se deleitam com as imagens da celebração do Jubileu de Platina e não querem cogitar de nada que possa comprometer o brilho da instituição monárquica. Que fique para depois a possibilidade de caírem na real.

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