Pobre do Herodes ingênuo
Pobre do ingênuo Caifás,
Pobre do ingênuo Sinédrio,
Pobre do ingênuo Anás,
Pobre do povo gritando
Fazendo escolha, pensando
saber de tudo que faz.
Quando o “Oratório Via–Sacra” terminou, em suas três apresentações na Semana Santa de 2005 (sob o maravilhoso teto da igreja de São Francisco), o público delirava. Na derradeira apresentação, lágrimas em alguns coralistas, lágrimas em alguns músicos, a mesma emoção, certamente, que fez Cida Lobo me dar aquele abraço e dizer-me, com voz embargada, que cada centavo investido ali pelo FIC fora muito bem empregado. Eu mesmo, autor do texto, estava embasbacado. Porque sequer imaginava
o que Ilza Nogueira fizera dele com sua música que conseguira – com uma perfeição inimaginável — nivelar Luís Gonzaga e um hino comum de igreja a Bach, Mahler, Charles Yves, Stravinsky, Vivaldi, Alban Berg e De Falla... como se fossem todos... um autor só.
Estava embasbacado com o trabalho que ela dedicara a meu texto, segurando-lhe a impetuosidade, multiplicando-lhe enormemente o peso dramático, trágico, dando – a cada frase – sua interpretação fascinante. Estava embasbacado com o Coro de Câmera Villa-Lobos, do qual seu regente preparador – Geraldo Dias da Rocha – conseguira cristalinas intervenções femininas, impressionantes performances masculinas, de uma qualidade que eu jamais vira em João Pessoa. Estava embasbacado com a orquestra, de uma sintonia que ia da perfeição do cello de Nelson Campos à massa sonora obtida pelos seus cinquenta músicos. E eis outro motivo de embasbacamento: o maestro Carlos Anísio. Surpreendeu-me seu porte no pódio, sua soberba segurança na batuta, no comando, conseguindo um conjunto de um brilho excepcional que o tratava – eu vi isso – com enorme simpatia, empatia e respeito.
Eu estava embasbacado, também, com o trabalho de Rosa Angela Cagliani, que incorporara a simplicidade de meus versos de cordel na composição de uma sequência de “quadros” que seu grupo Contemdança formava com naturalidade e beleza. Ah, e minha amiga Zezita Matos, meu amigo Osvaldo Travassos, na missão complexa de manter o tônus da narrativa sem tirar os olhos do maestro Carlos Anísio, que os inseria nos comentários musicais que acompanhavam o texto. E, na linha de frente, que beleza os solos de Vianey, e como se saíram bem o Josuel André - tenor, Daniel Seixas - barítono, Sara Martins - meio-soprano!
E o público! Lotando a nave, no térreo e no "coro", lá em cima, incluindo janelas laterais, corredores, educadíssimo durante o concerto, siderado, urrando de prazer e orgulho no final! Por que? Pelo trabalho realizado com raro esmero. Por que estavam ali? Pela cobertura da imprensa –, apoiada pelos outdoors, banners, plaquetes e convites, realizados pela Oficina Propaganda, a partir de fotos de Antonio David! E porque eu e Ilza Nogueira fizéramos questão de que o espetáculo fosse gratuito, pelo nosso respeito ao povo, pelo que fomos regiamente recompensados.