Penso que nasci no lugar errado. Detesto o clima dos trópicos, esse forno de siderúrgica que não respeita estação do ano, e o “barulho crônico”, praga onipresente no cotidiano das bandas de cá.
Nunca tive na vida um lugar que oferecesse verde, água doce, frio e silêncio, “sonho de consumo” que não consegui desfrutar. No entanto, me vi na contingência de me conformar por aqui.
Para preservar a saúde, já apresentando sinais de fragilidade, optei, na reta final da vida, por ficar em “off”, construir uma espécie de “universo paralelo”, embora precário, com muito cuidado para não me envolver nas polêmicas locais.
Diante do absurdo que é a própria existência, como bom seguidor de Albert Camus, procurei apenas viver o absurdo que me cerca, sem me deixar iludir pela esperança do indivíduo religioso ou do militante político.
No esforço constante para construir meu precário universo paralelo, escolhi o Facebook como minha única janela para o mundo. Digo "única janela" porque jamais utilizei smartphones, nem por empréstimo, desde quando a novidade apareceu. Meu “binóculo” tem sido o micro de mesa, que chamo de “salada paraguaia”, geringonça que já nasceu sem "griffe".
Para me manter como mero observador do cotidiano, descobri uma maneira de quebrar o isolamento: garimpar imagens da João Pessoa do passado — o que, pelo visto, dá prazer aos amigos e seguidores do Facebook e, claro, satisfação a mim mesmo (muitas vezes, tenho tido gratas surpresas com o que consigo encontrar).
Mas o que faço mesmo, com muita compenetração, muita firmeza, é levar minha vidinha ordinária, agora que cheguei aos 73 anos (completados em 29 de março), procurando saber por quanto tempo ainda vou sobreviver, com o mínimo de dignidade humana, tendo como única fonte de renda os proventos de funcionário público aposentado do Poder Executivo do Estado da Paraíba.
De agora em diante, com a capacidade de reação bastante reduzida, mas consciente de que o que vivi nestas sete décadas é o que me faz valorizar o que hoje sou, é “cumprir tabela” e aguardar o tsunami. Socraticamente.