(Para Carlos Pereira de Carvalho)
Muitos vieram por terra, outros surtiram por mar, nuvens de flechas daqui trovões de pólvora de lá Parahyba, Parahyba, rio ou braço de mar?!
Foi repente, recaída de adolescente.
Surtiu-me num momento da escrita ainda pela datilografia, o olho metálico do tipo a bater fixe na fitinha tisnada de preto ou vermelho no branco do papel.
Estas tiradas que o arrepio do rio me soprou, numa varanda ao poente do Hotel Globo, são do tempo em que a leitura dos cronistas velhos da cidade conseguira me empaludar com sua história, fazendo baixar alguma alma ou muitas delas sobre o escuro lodo secular daqueles telhados.
Surtiu-me num momento da escrita ainda pela datilografia, o olho metálico do tipo a bater fixe na fitinha tisnada de preto ou vermelho no branco do papel.
Estas tiradas que o arrepio do rio me soprou, numa varanda ao poente do Hotel Globo, são do tempo em que a leitura dos cronistas velhos da cidade conseguira me empaludar com sua história, fazendo baixar alguma alma ou muitas delas sobre o escuro lodo secular daqueles telhados.
Algumas ruas e vielas mais recentes, contemporâneas da chegada da República a andar nos passos de Artur Aquiles ou, mais remotamente, nas surtidas do Conde d’Eu vistoriando a chegada dos trilhos a serem instalados pela Companhia da qual era sócio maior. Casado com a Princesa Isabel, esse conde deixou seu nome na Estação, como reza a crônica que poucos sabem.
Telheiros selados, curvados à idade, com ruas não muito desamparadas de celebridades.
Ali ao sul, naquela que se confina com a Cadeia Velha, transformada em palácio festejado por opúsculo de Humberto Nóbrega, por ali fez ponto, no tempo de major brigadeiro, o marechal Floriano Peixoto. Pelas “Memórias” do coronel Coutinho, o precursor, há mais de cem anos, e a seu modo, da crônica social de Abelardinho Jurema, na época que menciono, Floriano e Gama e Melo andavam de parelha, o fundador do jornal A União com mais superioridade ou com mais estrela cultural. Aos fins de tarde botavam cadeiras na calçada da General Osório, e haja prosa.
Dessa prosa resultou o convite do presidente, marechal de ferro, para Dr. Gama ocupar o Ministério da Justiça. Gama respondeu que não se sentia à altura e se daria por satisfeito se lhe fosse dada a alfândega da Paraíba.
Convém lembrar que Gama e Melo, ao tempo dessa amizade, exercia ou exercera o governo do nosso Estado. Era jurista, professor de Latim do Lyceu, jornalista fundador de A União, dele se registrando episódios de grandeza com um desafeto de cátedra e com Eugênio Toscano.
Do mirante de onde o vislumbro, olhando esse crepúsculo de tantas histórias, aqui da varanda ao poente do Hotel Globo, somente o rio não tem idade, com o seu perene fluir serenamente indiferente ao desígnio dos homens e do tempo. A desolação ou a alegria sai das margens, ou do hotel onde tento entrar, mutilado em suas inscrições, o lodo, as folhas e as flores fazendo monturo, conspirando juntos contra ele.
Desta vez ouço o menino perguntar à moça ao lado que o acompanhava: “O mar vem até onde?”
Em verdade não é fácil saber em que ponto as águas se misturavam quando se vinha por mar e desembarcava no rio, tanto as mercadorias do reino como os presidentes da velha República e o próprio imperador. O passado está ali, vagaroso em seu fluir de silêncio e águas turvas. O progresso, graças a Deus, correu para o lado onde o sol chega primeiro.