As calçadas engarrafadas parecem que nunca terminam em dias de meio de semana. Pernas, placas, carros, passos aglomeram-se, esbarram-se, confrontam-se, esticam-se, atraem-se e desconectam-se a todo momento. São microencontros pela cidade a perder-se sem sentidos em manhãs e tardes quentes. São desencontros à procura do que nem sabe ao certo em noites de temperatura amena.
Andar a esmo revela o desassossego da mente que obriga o corpo a rotina do reencontrar-se. Desnivelados são os caminhos percorridos repetidamente que desafiam o equilíbrio dos desequilibrados.
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O trajeto exige atenção. Não é o carnavalesco percurso que leva o corpo à revelia por subidas e descidas ao compasso da banda que toca sem parar, anestesia festiva, matéria desafiadora por horas de alegria gratuita. Ao contrário! É feito de pedras, buracos, aclives, defeitos, armadilhas para testar a capacidade do ser. Desatenção com a trilha pode resultar em um acidental abraço ao chão, no mínimo, um tropicão, a popularíssima “topada”.
Mais desenvolto parece estar o cão que por ali passa. Com patas ágeis avança célere, equivale da destreza do improviso para sobreviver nesse mundo... cão. Ora atento aos anônimos agressores, por vezes de rabo risinho a quem lhe oferece um afago, outras tantas apenas desconfiado, por vezes relaxado. Avança e retrai com profissionalismo, muito mais que os outros seres caminhantes.
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