Cavalos de duas rodas apressados avançam em fila indiana pelo desfiladeiro de asfalto, espremidos pelos carros e ônibus. Todos são mais devagar que a vida, não importa. Aliás, certamente muitos estão parados mesmo à velocidade de 50, 100, 150 quilômetros por hora. Presos à pressa, perdem o sentido, cegam.
Ao contrário, a criança tira proveito de cada segundo veloz que vivencia. Insistem em manter diálogos enriquecedores com os pássaros, os gatos, os cães ou com o amigo imaginário. Por enquanto, não são tragadas pela ilusão de domar o mundo, ainda não se transformaram em fezes da existência. Muito provavelmente, mesmo que inconscientemente, tenham maior controle, pois se deixam navegar pela vida, enquanto observam pela porta aberta na mente e experimentam cheiros, sabores e toques.
O tempo, esse incontrolável e incontornável ator, controla tudo, dita o ritmo, em suas metamorfoses diárias, interpreta o mundo e os pretensos controladores dos tempos. Ele oferta-lhes sentimentos, sensações, amores, humores. O preço, no caso, é o tempo. Justo valor. Os apressados se perdem no temporal.
No chão, as pequenas faixas brancas se fundem ao avançar do velocímetro, tornam-se serpentes asfálticas. Por ali, a raia da grande piscina onde veículos navegam sobre rodas muitas vezes são trocadas, rotas são alteradas, ajustes são feitos, desvios surgem no caminho. E nem sempre o mais veloz chega a algum lugar.
Estrada, o tempo é outro. Na urbe, é urgente manter o equilíbrio sobre todas as rodas e, acima de tudo, ter controle dos pés. Pois, o tempo controla a partida, o percurso e a chegada. E para com o tempo trolar se necessário armar brincadeira, ser rápido o suficiente para manter-se criança ao atingir o mundo adulto e, assim, seguir equilibrado na velocidade que o levará a mais longe.