Em novembro de 1968 chegava ao mundo uma obra prima da música popular. Os Stones lançaram Beggars Banquet. Um marco e um retorno da banda ao que sempre foram mestres. O Blues mesclado ao Rock and Roll, talvez nunca superado, exceto, não por coincidência, por eles próprios. O último disco com participação de Brian Jones aos 27 anos consumido tragicamente pelos excessos resultantes do uso de drogas e álcool.
Mas a música que ainda conseguiu deixar neste disco com sua rara criatividade nos arranjos, proporcionou enormes conquistas nas riquíssimas composições de Keith Richards e Mick Jagger que as tornaram relevantes até hoje. Eram apenas dez canções, mas que ampliavam então os limites da música popular.
As letras abordavam da incitação política como mudança dos valores da época, à liberação sexual e à desesperança evidente destas possíveis conquistas. O Blues Rock nunca havia desnudado com tal força as dificuldades libertárias que seriam enfrentadas até os nossos dias de forma tão expressiva, exceto nas produções de Dylan. Godard, o “enfant terrible” do cinema francês registrou em cinema um pouco da criação em estúdio do disco.
Os Beatles nos deram o brilho de suas baladas e seus mergulhos na psicodelia, Dylan a poesia até hoje nunca atingida na música pop internacional e os Rolling Stones, o som, a fúria e o deboche que identificou toda uma geração ainda crédula de que a música seria o maior veículo para as tão necessárias mudanças sociais. Alguns anos depois John Lennon decretou que o sonho havia acabado.
Desde meados dos anos de 1960, todo o sonho da liberação sexual, do uso abusivo das drogas, do “flower power” como proposta romântica de mudanças dos valores de então, estão enterrados na hoje célebre frase “the dream is over”, ou “o sonho acabou”.
O Rock continuou evoluindo nos anos de 1970, superando em definitivo o conceito de lixo cultural tendo influenciado vários gêneros musicais incluindo o Jazz, o símbolo máximo da sofisticação da cultura norteamericana, na música.
ESQ ⇀ Nancy Sinatra ▪ As Tears Go By (Mick Jagger, Keith Richards & Andrew Loog Oldham)
DIR ⇀ Ella Fitzgerald ▪ Got To Get You Into My Life (John Lennon & Paul McCartney)
DIR ⇀ Ella Fitzgerald ▪ Got To Get You Into My Life (John Lennon & Paul McCartney)
Em 2020, comemoramos 50 anos de um disco que contribuiu com inesperada força para o Rock and Roll quando este vivia um período de máxima criatividade e superando seus próprios limites. Trata-se do indiscutível melhor disco de um beatle, já na fase pós-Beatles — Plastic Ono Band — em que John Lennon estabeleceu novos elementos para as expressões da angústia humana no plano individual e coletivo. Tudo isto está no disco embasado em uma música minimalista não obstante paradoxal e extremamente criativa: “Mother”.
Lennon pontificou a desesperança da aventura humana sobre a Terra, a perda da fé nas expectativas futuras de um mundo sob o comando das grandes corporações, nas perdas em crenças nos grandes mitos nos campos político, artístico e místico, de onde se esperava uma forma de crescimento espiritual. Não poupando nem as religiões, registrou em poesia aquilo que já se insinuava em Altamont no show dos Rolling Stones para 300 mil pessoas, que eclodiu em violência e morte.