Coitados dos meus colegas escritores Ariano Suassuna e Gabriel García Márquez. Por mais que tenham criado personagens maravilhosos não conheceram Tiquinho. Se ainda fossem vivos, morreriam de inveja quando soubessem que eu tenho o privilégio de caminhar nas madrugadas da beira mar do Cabo Branco ouvindo-o contar suas histórias.
Do alto do seu quase metro e meio (daí ser Tiquinho de gente), conta que saiu de casa aos 12 anos para trabalhar de alugado. Durante seis anos mourejou na roça todos os dias sob um sol implacável, juntando uma graninha que lhe permitiu comprar seis cabeças de gado, seu capital inicial.
Vendeu o rebanho e saiu do interior para a capital, iniciando-se no comércio através de um pau de galinhas. Explico: ia pelas feiras com um pau atravessado por trás do pescoço de onde pendiam, bem amarradas, 4 galinhas de cada lado. Fosse mais alto poderia carregar até 10 penosas à direita e outro tanto à esquerda. Bem que tentou. Mas, prejudicado pela pouca altura, viu que o excesso da mercadoria arrastava no chão, estragando o produto. Um tempinho depois conseguiu comprar um Jeep bem usado e passou a transportar do interior para João Pessoa tudo que pudesse vender, de açafrão a quiabo. Um detalhe curioso é que como não tinha sido alfabetizado não possuía habilitação. O que não era nada demais comparado à falta absoluta de licenciamento do veículo. A mercadoria também não possuía nota fiscal, mas Tiquinho seguiu firme e com o tempo e alguns empurrõe$$ finalmente conseguiu a tão almejada carteira de motorista. Aí sim, estava pronto para voos maiores. Juntou toda a grana que possuía, comprou um caminhão velho, encheu de abacaxi e, sozinho, danou-se para a Ceasa... em São Paulo.
Diz aí, Tiquinho:
— Ah, doutor, cadê que eu sabia ler as placas na estrada? Encostava o caminhão e ficava adivinhando o que bexiga era aquilo, pra onde eu tinha que dobrar. O povo que passava era que me dava o rumo. Mas cheguei lá, fiz o apurado e pra não voltar escoteiro me danei até o Paraná, onde comprei muito feijão e na volta entrei com força nos curumins”.
Curumim é grana, entendido? Tiquinho diversificou, foi dono de farmácias, padaria, supermercado, chegou mesmo a construir 30 casas, até que surgiu a moda de todo mundo investir no over night. Ele não sabe pronunciar a palavra, mas sente até hoje a lapada que levou nos negócios. Porém mais uma vez reergueu-se e triunfou. Educou os filhos e os encaminhou. Aos 75 anos vive muito bem numa fazenda e vez por outra nos dá a alegria de caminhar em nossas madrugadas. Apesar de ter sofrido alguns sérios problemas de saúde, consegue andar no meu ritmo, o que é muito difícil. O mais importante, entretanto, é que nos encanta com suas maravilhosas histórias, das quais dei um brevíssimo exemplo. Um dia lhe perguntei sobre namoradas. “- Doutor, o home que trabalha não tem tempo pra isso não”.
Viva Tiquinho!