AVESSO
Quem é que se esconde no outro lado da porta, na ponta do fino fio, na base da tela opaca? O que é que há na parte oposta da ponte, no extremo do arco-íris, na vértice inversa da corda? O que se enxerga, logo após o nevoeiro, a fumaça amarelada e a luz no fim do túnel? O que é que se vê, quando se retira o pó acumulado das velhas fotos penduradas na parede e quando se remove a tênue camada de vapor do vidro fosco da janela que separa o sonho da realidade? O que nos revelam o verso da folha em branco, o reverso da moeda vencida e a imagem reduzida, vista pelo buraco da fechadura ou pela fresta da telha que se partiu dia desses? O que se quer encontrar na gaveta há muito fechada, no fundo falso da mala, nas lembranças adormecidas, nos pensamentos censurados? Que rosto, em sombras envolto, se reflete num espelho embaçado, vaidoso de ser um Narciso, mesmo que desfigurado? Quem vai desvendar a face oculta da morte e a espetacularização de uma vida ampliada no Facebook e mascarada no Instagram? Quem será capaz de explicar as perguntas sem respostas, os perdidos não achados, os desejos reprimidos, o movimento silencioso dos que nos passam ao largo? O que se espera mudar, após a virada do ano e em todos os dias seguintes? O que você sente, enfim, no dia do seu aniversário, ao perceber que não pode deter o tempo que corre, sorrateiro e desenfreado, como se tudo fosse igual, quando está tudo mudado?
Quem é que se esconde no outro lado da porta, na ponta do fino fio, na base da tela opaca? O que é que há na parte oposta da ponte, no extremo do arco-íris, na vértice inversa da corda? O que se enxerga, logo após o nevoeiro, a fumaça amarelada e a luz no fim do túnel? O que é que se vê, quando se retira o pó acumulado das velhas fotos penduradas na parede e quando se remove a tênue camada de vapor do vidro fosco da janela que separa o sonho da realidade? O que nos revelam o verso da folha em branco, o reverso da moeda vencida e a imagem reduzida, vista pelo buraco da fechadura ou pela fresta da telha que se partiu dia desses? O que se quer encontrar na gaveta há muito fechada, no fundo falso da mala, nas lembranças adormecidas, nos pensamentos censurados? Que rosto, em sombras envolto, se reflete num espelho embaçado, vaidoso de ser um Narciso, mesmo que desfigurado? Quem vai desvendar a face oculta da morte e a espetacularização de uma vida ampliada no Facebook e mascarada no Instagram? Quem será capaz de explicar as perguntas sem respostas, os perdidos não achados, os desejos reprimidos, o movimento silencioso dos que nos passam ao largo? O que se espera mudar, após a virada do ano e em todos os dias seguintes? O que você sente, enfim, no dia do seu aniversário, ao perceber que não pode deter o tempo que corre, sorrateiro e desenfreado, como se tudo fosse igual, quando está tudo mudado?
MANIAS
Ando pelas ruas tirando os noves fora das placas dos carros. Na calçada esburacada, procuro não pisar nos finos traços que separam os ladrilhos. Ao abrir uma porta e fechá-la atrás de mim, dou dois passos para trás e volto para conferir se está mesmo trancada. Um quadro na parede precisa estar centralizado e numa mesma distância, à esquerda e à direita, tudo, simetricamente, medido, combinando com os móveis da sala. Os papéis que empilho não podem ter pontas dobradas e nem ficar sem que estejam, exatamente, um embaixo do outro. A comida no prato, organizada por cores, vai sendo consumida quase que em ordem alfabética. E vou carregando manias que me acompanham, marcas registradas daquilo que me tornei e do que hoje sou, por fim.
Ando pelas ruas tirando os noves fora das placas dos carros. Na calçada esburacada, procuro não pisar nos finos traços que separam os ladrilhos. Ao abrir uma porta e fechá-la atrás de mim, dou dois passos para trás e volto para conferir se está mesmo trancada. Um quadro na parede precisa estar centralizado e numa mesma distância, à esquerda e à direita, tudo, simetricamente, medido, combinando com os móveis da sala. Os papéis que empilho não podem ter pontas dobradas e nem ficar sem que estejam, exatamente, um embaixo do outro. A comida no prato, organizada por cores, vai sendo consumida quase que em ordem alfabética. E vou carregando manias que me acompanham, marcas registradas daquilo que me tornei e do que hoje sou, por fim.
Poemas incluídos no primeiro capítulo do livro "Entre Parênteses" (edição da autora), de Marineuma de Oliveira, declamados no podcast homônimo, pelo grupo Poética Evocare. Clique na imagem ao lado para acessar a página eletrônica do grupo literário no facebook.