O livro O Homem que Plantava Árvores do escritor francês Jean Giono, uma fábula sobre a preservação do meio ambiente, é composto de mensagens que inspiram a lutar pela paisagem, mesmo onde não existam vidas. Não resumirei os componentes da narrativa, mas sugiro ir atrás da obra para conhecer a bela estória que, para mim, revelado minhas habilidades de agricultor, é uma lição de vida. Apenas confesso se tratar de um solitário homem que transforma uma área desértica em aprazível reserva florestal, anos depois a floresta traz água e chega o desenvolvimento.
Lendo o livro e assistindo ao filme em desenho animado sobre esse homem sonhador, deu saudades do tempo de criança em Serraria, a cidade rural a misturar nosso sítio com o burburinho urbano, distante dois quilômetros. Encerrada a película ou virada a última página impressa, nossa vontade é plantar uma árvore.
O poeta do paisagismo Burle Marx inspirou algumas reservas ambientais nesta cidade e, agora, quando se vislumbra um parque onde antes existia o aeroclube, a administração municipal foi atrás dos seus seguidores para montar projeto para aquela área.
Lembrar do escritor francês, recordar Burle Marx que possibilitou lições inestimáveis sobre o cuidado com a Natureza, e com o anúncio desse projeto ambiental para nossa Capital, vem à memória os feitos do poeta, artista plástico e ativista ecológico Hermano José, que trouxe até nós a necessidade de preservar o verde e de criar novas paisagens nas áreas urbanas.
Por que lembrar de Hermano José nesse momento? Porque meu conterrâneo de Serraria muito buscou a preservação do que restava de área verde em nossa Capital. Seu olhar recolheu paisagens do Engenho Baixa-Verde, em Serraria, e lembranças de Caiçara, que transportava para seus quadros e sua poesia. Cedo percebeu a inevitável expansão da indústria imobiliária e por isso defendia a preservação de espaço ambiental.
Hermano era uma relíquia da família rural e cedo abriu os olhos à compreensão do mundo, mesmo que o mundo não o compreendesse. Um peregrino do Sonho que se comovia com a destruição do homem, da máquina derrubando paredes e expondo raízes de frondosas árvores, dores que sentia no recolhimento ao eremitério na praia do Bessa, onde viveu silencioso, alimentado pelo pão da Arte.
Lembro dele porque em julho completa cem anos de seu nascimento, carecendo das indispensáveis homenagens, mas nem a UFPB, nem governo ou prefeituras da Capital e da cidade onde ele nasceu têm revelado uma programação, curta que seja.
Pelo que Hermano desbravou em favor das Artes, da Poesia, da Pintura e da Ecologia se faz merecedor de ter seu nome lembrado. Nem sempre a Paraíba acolheu seus filhos que elevaram o panorama das Artes, ou de outra vertente indispensável à vida, como a Ecologia e a preservação de sua história. Exemplo é Lauro Pires Xavier. Quem lembra deste homem que estava sempre disposto a colocar os pés e as mãos na terra para vê-la florir?
Talvez seja a hora de lembrar os vínculos de Hermano José com o verde e perpetuar sua presença em um recanto da cidade, nem que seja dando nome a uma alameda nesse novo parque que, por final, projetado pelos seguidores de seu amigo Burle Marx.
Existem certos homens – mulheres também – que ofertam a vida na construção de ambiente bom para se viver, mas nem sempre são entendidos como merecedores de honrarias pelos compatriotas.