Quando a prefeitura municipal desta cidade decidiu homenagear Gonzaga Rodrigues, em evento cultural na manhã de um sábado no Pavilhão do Chá, coube ao jornalista e historiador Ramalho Leite pronunciar as palavras de saudação, depois do homenageado recolher os olhares de admiradores e receber a aspersão da chuvinha sobre nossas cabeças. A chuva foi como benção dos céus para saudar o encontro de amigos.
A conversa de Ramalho girou em torno da paixão do cronista pela cidade, dos textos e das crônicas dedicadas à sua história, à beleza de seus parques e da paisagem de antigos logradouros, uma paixão que se arrasta há mais de sete décadas, desde quando trocou os canaviais e o frescor de Alagoa Nova pelo agasalho à sombra dos coqueirais e das mangueiras da Lagoa. Logo recolhido à mesa de revisão do jornal comandado pelo conterrâneo José Leal, sem esquecer os córregos, enseadas e decliveis do Brejo, declarou-se enamorado da cidade que o acolheu, mundo novo descortinado no alvorecer de 1951.
Com sua crônica, texto que abre as entranhas poéticas da cidade, em pouco tempo Gonzaga cativou a muitos, passeou com desenvoltura por entre os frequentadores dos salões do Cabo Branco, adentrava pelos corredores do Palácio da Redenção sem pedir licença, era reconhecido pelos feirantes do Mercado Central. Em décadas, sua crônica de amenidades, às vezes rebuscada de passagens saudosistas, se constituiu em lenitivo para muitos. Mesmo que esses leitores tenham ficado escassos em face dos novos caminhos da imprensa, ele continua o cronista que todos esperam para a leitura nas manhãs.
- Gonzaga é permanente!
Bradou Ramalho Leite, testemunha dessa caminhada do autor de “Um sítio anda comigo” e de “Retrato de memória”, pelas redações de jornais, ele mesmo parceiro dos anseios de Gonzaga.
- Gonzaga revela a cidade que poucos conseguem ver, e observa com o olhar prolongado de amante apaixonado.
Ramalho falou muito mais do apego de Gonzaga pela cidade, uma cidade que ainda não respondeu ao que tem feito para que sua população mais jovem possa conhecer, e, conhecendo, amar e preservar o que resta de sua história.
Mesmo que a UFPB o tenha incluído entre os agraciados com o título de Doutor Honoris Causa, e que a câmara municipal lhe tenha concedido a cidadania, já tinha conquistado essas honrarias pelo apreço de leitores e declarados admiradores que recolhem os afetos de sua camaradagem.
Uma vez escutei Nathanael Alves comentar que os jornais gostavam de ter Gonzaga como colaborador porque aliciava leitores. Aliás, Gonzaga, Luís Crispim, Nathanael e Carlos Romero formavam quarteto de cronistas que os buscávamos para completar o café da manhã.
Gonzaga não me deixou órfão depois que Nathanael fez a longa viagem de volta ao seio paterno. Há mais de quatro décadas a ele recorro, a buscar o acalanto às aspirações de leitor, e dele recebo incontáveis ensinamentos que, na minha rudez de brejeiro crescido entre as amorosas e o pêlo da cana, têm sido por demais proveitosos.
Este homem de elevado conhecimento da arte de manusear as palavras e de compor jornal, continua revelando-se amante desta cidade, cidade que continua sendo o refúgio do adolescente que deixou Alagoa Nova com uns poemas no bolso e um bilhete para José Leal o acolher na redação de O Norte.
Tantas décadas depois, como poucos, sem muito pedir, ele continua com olhar permanente para a cidade.