Sábado passado, os diretores da Fundação Cultural de Joâo Pessoa – FUNJOPE, com assinatura do Sr. Prefeito, me convocaram ao Pavilhão do Chá para fazer-me entrega de registro da instituição “por sua permanente contribuição à cultura da cidade”. Ao mesmo tempo me presentearam com um retrato em acrílica, pintado por Davi Queiroz, de ar e cores muito vivas e mesmo generosas com “o poeta” (assim me trata) que já não tem muito a ver, em carnes, com o ancião que se apresentava.
E de repente me vi diante de uma preciosa dezena de amigos e outro tanto ou mais de leitores, num ambiente que, fosse na Grécia, em Roma ou mesmo aqui no Recife Velho o local que serviu de palco teria outra rotina de tratamento, já não digo do povo que, entre nós, tem muito mais a ver com a luta de todo dia pela subsistência, mas de nossas tradicionais elites.
Quero crer que o Pavilhão do Chá, construído na praça Venâncio Neiva, ao lado da praça cívica, entre dois palácios e a dois passos do Colégio dos Jesuítas, foi o coroamento de uma nova arquitetura da cidade, que se despedia do casario do núcleo colonial para o ecletismo das chamadas mansões do algodão erguidas pela afortunada burguesia dos anos 1920. Camilo de Holanda soube aproveitar essa rara fase de boas finanças, agregando à cidade praças e edificações que a simbolizam tanto quanto o Parque Solon de Lucena e a Getúlio Vargas que vieram depois. Trincheiras, Tambiá!
Veio o presidente João Pessoa e encontrando o Estado em situação oposta, despedido da euforia algodoeira, apertado de crédito, permitiu-se, em menos de dois anos, regularizar as finanças, cuidar do essencial e se dar ao requinte de coroar a modernização da capital com a joia do Pavilhão do Chá ao lado do coreto da praça de Camilo, a praça Venâncio Neiva.
Foi casa de chá, requintadíssimo hábito hoje reduzido ao cerimonial da ABL, depois sorveteria e, já na minha fase pessoense, choperia. A última vez que tive o prazer de sentar-me à pequena mesa de mármore, suponho que ainda dos velhos tempos do presidente João Pessoa, foi no final do governo Burity, há mais de trinta anos, com os editores do álbum impresso pela antiga Manchete. O carioca Alvimar, editor-chefe, não disse para me agradar, não precisava: “Cerveja eu já tomei numa casa do ramo às margens do Reno. Te digo que não me senti melhor do que agora”.
E o que é mais importante: não foi abandonado pelo poder público. Quando pouco se faz, renova-se a grama e se passa uma mão de cal no coreto, feito, no seu tempo, para olhar a cidade que se derramava ladeira abaixo até o Sanhauá. Na gestão de Luciano Cartaxo foi restaurado e houve esforço ainda que frustrado de ativação. De precária segurança, o comércio não se aventura mais em reabilitar os antigos usos desse espaço privilegiadíssimo.
Sendo assim, me vi realmente premiado ao ser chamado para ajudar a espantar os fantasmas que julgam roubar o sol, o ar e a vida de um ornamento único do nosso urbanismo.