Nem sempre a democracia é inspiradora, nobre ou grandiosa. Ela tem suas cavernas e obscuridades. Idealizá-la é devaneio.
É mais que óbvio lembrar que concorrer a uma eleição é se submeter à vontade da maioria, que nem sempre coincide com a nossa. Paciência, é assim que a política funciona. Esta é a natureza da democracia que dizemos valorizar.
É mais que óbvio lembrar que concorrer a uma eleição é se submeter à vontade da maioria, que nem sempre coincide com a nossa. Paciência, é assim que a política funciona. Esta é a natureza da democracia que dizemos valorizar.
Durante uma campanha eleitoral tenta-se persuadir as pessoas de que estamos certos e de que o programa de nosso candidato é o melhor. Por vezes há exageros evidentes no calor dos debates - e isso também é natural.
Porém, nos últimos tempos, aqui no Brasil, a sensação que se tem é de testemunhar um absoluto descontrole emocional, com agressões e mentiras cada vez mais ousadas, além de estratégias para semear o medo. Há muito deixou de ser uma eleição: é uma guerra civil que ocorre no campo psicológico e nos deixa a todos sequelados.
O que menos se discute são os graves problemas que terão de ser resolvidos de imediato: déficit público, reforma tributária e da previdência, educação em frangalhos e a crise na segurança pública que nos faz chorar 60 mil homicídios por ano.
Se, ao votar, o conjunto da população escolher o candidato adversário, receio que os derrotados não se limitarão a lamentar, mas cederão à tentação de agir como se houvesse acabado de se iniciar o apocalipse. Nos países onde o espírito dionisíaco-extremado não prevalece, perder nas urnas é ocasião para aprender com os próprios erros, refletir, tirar lições, sacudir a poeira e preparar-se para voltar ao jogo da próxima vez. Eis uma atitude que nós, brasileiros, precisamos pôr em prática.
Há países (acredite, eles existem) em que os vencedores preferem demonstrar grandeza perante o derrotado, sem usar a ocasião para espezinhar e aumentar os ódios. Suspeito que não será desta vez que testemunharei algo assim por aqui, embora cultive a esperança de que um surto de maturidade tome o país só para me provar que milagres são possíveis e me forçar a conversão a alguma divindade pacificadora.
Acho surpreendente todos esquecermos que, para além da fornalha das disputas, estamos no mesmo barco. Chega a ser insano torcer contra o país ou optar por continuar numa esquizofrênica disputa que fere o Brasil como um todo, extrapolando a esfera da política para atingir em cheio as relações pessoais. Insistir nisso é uma demonstração cabal de que as paixões individuais ou ideológicas estão acima dos interesses do país.
A oposição é necessária e deve ser vigorosa. Será pedir muito que seja honesta, baseada em argumentos, críticas sérias, atitudes coerentes? Ou vamos continuar aos berros? É necessário resgatar atitudes honradas nesse festival de indignidades que transformou a atual eleição em algo obsceno.
Vou torcer para que o futuro presidente - seja ele quem for - tenha sucesso. Será elogiado nas boas propostas e criticado nos equívocos. É o mínimo. Quem não concordar, fique à vontade para contribuir para o caos atual continuar a incendiar o Brasil nos próximos quatro anos. Os que pensam assim devem ter muito tempo de vida para aguardar que, sobre as cinzas do país, daqui a muito tempo, seus aliados reconstruirão o mundo mágico com que sonham. Eu certamente não tenho tal tempo. Por isso torço pelo melhor agora.