A culpa não é da Imprensa, como sempre se atribui, ao noticiar desmantelos. A imprensa deve ser a voz do povo. Calar os meios de comunicação, é cortar a língua do povo. A alienação não vem apenas de certas manifestações culturais, mas das nefastas redes sociais quando disseminam ódio e mentiras. Esses não são jornalistas, mas embusteiros.
Recordo o tempo quando botei os pés na redação de jornal, encantado, como ainda sou, por esta atividade que ajuda a construir pontes, abrir mentes e corações às verdades que trazem vida e paz.
Revelado na adolescência o gosto pela leitura, quando ainda carregava comigo a brisa fresca dos canaviais de Serraria e o mormaço das caatingas de Arara, Nathanael Alves entendeu meu desejo de atuar nas redações de jornais. Foi grande o contentamento quando Teócrito Leal apresentou-me a Evandro Nóbrega, então secretário da Redação de O Norte, e disse-lhe mais ou menos isso:
- Este rapaz estará com você todas as noites, fazendo uma experiência. Foi encaminhado por Nathan.
Isso se deu por volta de 1976, e desse momento em diante foram reveladoras as experiências na redação. Observava Druzz a preparar a edição do jornal, a aprontar com esmero cada página que editava. Fui incumbido de copiar telegramas que as agências enviavam. Selecionadas as notícias, datilografava na máquina Remington. Tornei-me repórter plantonista, até que o secretário da Redação revelou que eu passaria a ajudar no fechamento do Diário da Borborema que, naquela época, tinha algumas páginas editadas em O Norte. A partir daí, titulava matérias, legendava as fotos e produzia as chamadas de primeira página. Um bom começo.
Nathanael ficou contente quando comentei sobre a nova atribuição na redação do velho jornal.
Olhou-me com os olhos de pai bondoso, mas nada disse. Meu olhar para ele foi revelador dos sentimentos de gratidão, em nada disfarçado.
O país vivia noites sem luz, os jornais ainda impedidos de noticiar fatos que desagradassem ao governo, as redações sob ameaças de embargo, jornalistas amordaçados. Foi quando cresceu o costume de dizer que as greves e protestos eram estimulados pela Imprensa porque incitava as manifestações populares, ao servidor público abria espaços para expressar sua indignação com os baixos salários, dava voz aos estudantes, aos agricultores estendia-lhes a mão. Tornou-se lugar comum, em todo o País, mandar jornalista calar a boca. Quando não retirado do convívio familiar.
Anos de aprendizagem. Obediente ao timoneiro Nathan, sob os olhares de Teócrito e Evandro, ocupava os espaços nos meios de comunicação. Encontrei os ambientes que me bastavam para o repouso de minhas aspirações profissionais e literárias, sem esquecer os espojeiros deixados em Serraria e Arara.
O tempo passou, os meios de comunicação avançaram, estamos distantes do ano do golpe militar, e mudaram os métodos de ameaças. Quem sabe chegou a hora das redações ouvirem os relatos de quem presenciou e viveu momentos de apreensão, na convivência com censores que retiravam matérias das páginas.
A API e o Sindicato dos Jornalistas prestariam um grande serviço se motivassem debates acerca daquele do período em que a censura era explícita, para que os jovens repórteres possam melhor conhecer as atrocidades contra a liberdade de imprensa, que continua em voga, mesmo com outros métodos não menos selvagem.
Os caminhos das redações estão cada vez mais encolhidos, cada vez mais dominado pelo poder público que amordaça e mandar jornalista ficar calado. Estão sendo criadas redes de desinformação que ajudam a retirar a cultura das mãos da juventude e das crianças.
A culpa nem sempre é da Imprensa.