Tenho dois amigos que escrevem romances. Um que usa palavras e outro que pinta quadros para contar suas histórias. Ambos com suas obras ...

Romancistas e artistas plásticos

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Tenho dois amigos que escrevem romances. Um que usa palavras e outro que pinta quadros para contar suas histórias. Ambos com suas obras transmitem paz e contribuem para que a literatura e a pintura transformem a sociedade.

A arte de pintar ou escrever não está distante uma da outra. São artes irmãs, como se costuma dizer, pois nos levam a caminhos do contentamento, trazem a quietação à alma e criam a possibilidade de mudar o comportamento da coletividade.

Waldemar José Solha e Flávio Tavares, ambos ao seu modo, com seus romances e suas pinturas, conduzem a arte a um patamar de grandeza.

WJ Solha e Flávio Tavares
Numa pintura tudo está diante de nós, aberto aos olhos, já com o romance imaginamos conforme descreve o autor. A literatura ocupa o tempo, enquanto que a pintura, a escultura e outras artes visuais preenchem o espaço da nossa visão.

Escrever romance equivale a pintar um quadro usando palavras, e durante sua leitura damos vida aos diálogos, às imagens descritas que são captadas pelo olhar.

Ao escrever, o autor visualiza a imagem apanhada pela mente e descreve a cena imaginada, enquanto o pintor coloca na tela o que não consegue dizer usando palavras. Cada artista fala com o público usando seu modo de comunicação.

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Anna Kariênina é um grande romance, um dos melhores que se escreveu. Tolstoi, seu autor, é um escritor que nos leva a ler seus livros como quem olha um quadro, a viver com seus personagens, a passear pelas paisagens pintadas com palavras.

O romance é para ler sozinho, enquanto que juntos contemplamos uma pintura. Essa é a diferença. Pintura e romance conduzem a mesma emoção e devem proporcionar a mesma transformação da alma e do comportamento humano. No romance, ao correr da leitura, formamos as imagens, na pintura tudo está à nossa frente. Mas ambos têm seu valor como instrumento transformador e de gerar prazer.

As palavras são importantes à formação visual das imagens diante de nós. O importante é que pintura e romance contenham a emoção como componente principal.

Escritores franceses de outrora tinham esse olhar para a pintura, talvez por isso seus romances sejam cheios de detalhes como numa pintura. Proust teria afirmando certa vez que seus livros deveriam ser menos secos, contendo camadas de cores.

O escritor Henry James achava que “ser romancista significa pintar com palavras”.

Temos um romancista e um pintor maravilhosos, que contam histórias e escrevem poesia usando o pincel. Solha elabora romances e produz quadros. Flávio Tavares escreve livros pintando. Cada um ao seu modo, com sua poesia.

Lemos “Israel Rêmora” como que a observar uma tela. Quando contemplamos “No Reino do Sol” é como se lêssemos livro sobre a história da Paraíba.

Flávio Tavares
Para ambos, pintar ou escrever é um instinto natural semelhante a respirar. Nos lembram o Rio Paraíba descendo por entre as serras, a inundar baixios com sua água límpida, que recordam voos poéticos e vastos mosaicos solares a povoar a imaginação.

Solha e Flávio são bons pintores e ótimos romancistas, cada um com seu modo de fazer arte, ambos valorizam o homem como matéria-prima. Neles as palavras e as cores têm peso, aparência luminosa e som porque eles sabem ouvir e olhar aos arredores da alma e da Natureza.

Escrevendo um romance ou pintando um quadro, ambos contribuem para se atingir a supremacia da felicidade que a arte oferece. Ambos criam paisagens de afeições secretas. Oferecem os caminhos para o conhecimento do íntimo. O leitor ou quem observar silenciosamente as obras de cada um, percebe as sensações que compõem o universo afetivo, tão salutar ao espírito.

Não os chamo de gênios somente porque pintaram ou escreveram bem, mas os considero definitivos.

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  1. Valeu, José Nunes! Sempre que esse tema vem à tona, lembro-me de Hemingway dizendo que aprendeu a escrever vendo os quadros de Cézanne. O curioso é que meu primeiro contato com a arte foi através da pintura, e que quando fui escrever meu primeiro romance - o "Israel Rêmora" que você menciona - o que me levou a ele foi a leitura de "As aventuras de Nick Adams", contos de Hemingway - distante de seus outros temas - grandiosos - como o de "Adeus às Armas" ou "Por quem os sinos dobram" - mostrando-me que poderia criar belas narrativas a partir de experiências banais, como ele fez com passagens de sua juventude. A pintura me levou, aqui e ali, a passar longos períodos sem escrever, como aconteceu quando fiz minha versão do "Jardim das Delícias", de Heronymus Bosch, que me consumiu seis meses de tempo integral, enquanto "Homenagem a Shakespeare", do auditório da reitoria da UFPB, nove - como uma gestação. Mas a literatura me traz respostas a perguntas fundamentais, por isso parei como encenador em 1988, como pintor em 2004 - em minha última mostra -, e como ator em 2010. E a partir de 2004, lancei-me no poema longo - que chamo de tratado poético-filosófico ( a maneira do Tractatus Logico-Philosophicus de Wittenstein ) - com Trigal com Corvos, Marco do Mundo, Esse é o Homem, Vida Aberta e 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite. Ao trabalhar, agora, em minha AUTO B/I/O GRAFIA, em busca daquele Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo - do templo de Delfos, vejo que quando estudava anatomia no aprendizado de pintura, bem como o "Divina Proporção", de Luca Pacioli - matemático que me deu a contabilidade com a qual me mantive como burocrata por trinta e tantos anos - e a noção de composição que me levaria a me deslumbrar não só com a Ceia Larga do Da Vinci como com as principais obras do Bardo. Claro que, ao acompanhar o Flávio Tavares na criação de suas últimas obras, a vontade de participar do trabalho é enorme. Mas acidentes de percurso, como o infarto que tive há um mês, nestes meus 80 anos, me dizem que não disponho, mais, de tempo para filmes, teatro ... e pintura, onde - para mim - tudo começou.

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