Recentemente alguém me enviou um zap com uma oferta curiosa: vender curtidas nas redes sociais. Por certa quantia ele poderia fazer com que o meu Instagram, por exemplo, apresentasse um número de seguidores bem maior do que os que tenho.
Obviamente, recusei de imediato. A oferta propunha uma fraude. As redes sociais sempre me pareceram um meio válido para divulgar produções artísticas ou intelectuais. Elas têm feito aparecer quem, de outro modo, manteria engavetados seus textos, desenhos, pinturas. Como não exigem que se gaste dinheiro com isso, constituem uma plataforma democrática. Ninguém precisa ser rico ou poderoso para, se tiver talento e boas ideias, dar-se a conhecer ao mundo.
O sucesso nessas plataformas se mede pelo número de seguidores. Hoje é inevitável que se avalie a popularidade e o poder de influência de alguém pela quantidade de pessoas que o seguem nessas mídias sociais. Um dos problemas está justamente aí: na quantidade. Um número é uma abstração, não designa uma entidade de carne e osso.
Alguém alardeia que tem mil seguidores no Facebook ou no Instagram. Mas quem são eles? Em princípio, são conquistados em função do conhecimento que se tem da pessoa e da admiração pelo seu trabalho. Esse é um critério honesto e honroso, que deve orgulhar o detentor da página caso ele deseje uma avaliação séria do seu trabalho.
Mas, e quando desses mil a maior parte é comprada? Como avaliar o mérito do que é produzido e passado a outros como se tivesse obtido aprovação popular? Dirá o leitor: “Quem compra curtidas não está interessado em tais considerações.” Sem dúvida, mas permitir a venda é uma forma de encorajar a desonestidade.
Não é a primeira vez que recebo esse tipo de proposta indecente; houve pelo menos outras duas. Essa modalidade de comércio deve ser comum e dar uma falsa ideia da magnitude de muitos perfis nas redes sociais. É preciso desconfiar dos números que eles ostentam, pois muitos dos apregoados seguidores devem ser forjados.
Parece que a internet vem se tornando o paraíso da falsidade (ou do fake, para usar um termo da moda). Falsificam-se notícias para destruir reputações e induzir eleitores a escolhas indignas. Falsificam-se dados numéricos para sugerir que gente pouco qualificada dispõe de ampla aceitação popular. Isso para não falar nos saites de relacionamento, em que muitos se passam pelo que não são para seduzir e explorar corações solitários.
O termo “seguidores” já é por si antipático; sugere que alguém é um líder político ou religioso e pode ditar aos outros o rumo a seguir. Associar a ele esse tipo de mercado só dá motivos para desconfiar do que ainda possa existir de ético e respeitoso nas redes sociais.