Olho sem olhar o movimento da rua… Digo um verso na minha cabeça,sei que é de Adélia Prado...
“a mim que venho vindo
desde a infância
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas..."
Quebro a cabeça tentando completar o verso e não consigo. Sem sucesso. Enquanto isso o capuccino à minha espera. Gole miúdo, olhar vago.
O pensamento cortado por alguém que me cumprimenta procurando prosa. Enquanto pelo avesso insisto no poema de Adélia e o pensamento voa com mil intenções, os planos de vida, a estratégia para acomodar os novos fatos, a agenda a cumprir, a massa fria do cotidiano. O sonho virando projeto assim que entre um dinheiro… a próxima viagem.
O que não posso perder de vista é o pensamento em fio que se desenrola e já não me pertence, muda rapidinho para o livro que componho no momento… Contemplo cenas que me emocionaram, aciono fatos, alguns ainda doem, em outros um suspiro fundo, e passam… delírios eróticos que me tocam como se fossem um beijo.
E nada se perde na minha cabeça e nem cai no vazio....nada é óbvio… e vou, testemunha do pensamento tentando não saber, mas de mãos livres, sendo conduzida ao aleatório.
O foco sob as ordens do pensamento que ainda desconheço… as formas vão se integrando aqui e ali. Intensa na mão direita é a pressão na bic. Intensa nesta paixão não diluída, na dança do fogo que não temo. Chove... e ardo. À noite.