2017 Vi — em meu computador, pelo skype — o filho Dmitri, 50 anos — dizer, lá de Fortaleza, que fora confirmada a metástase do câncer...

O momento mais doloroso

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2017
Vi — em meu computador, pelo skype — o filho Dmitri, 50 anos — dizer, lá de Fortaleza, que fora confirmada a metástase do câncer, agora no fígado. "Tô morto, pai!". E chorou.

— Calma — eu disse, porque teria de dizer alguma coisa. — Nayah é enfermeira, com bons parentes médicos da área, aí na cidade. Isso será contornado!

Sem transição, ele acrescentou que, pior, era passar por aquilo no inferno que era a sua vizinhança — detalhe surpreendente, mas a que me apeguei:

— Que coisa! E não há outro lugar melhor em que vocês pudessem morar?

— Há um apartamento bom, disponível, no condomínio que fica exatamente defronte ao hospital em que Nayah trabalha, mas está fora de nosso orçamento.

— Eu pago o aluguel.

Foi incrível ver o seu sorriso de alívio! Jamais vou, realmente, entender o ser humano.

Foi um período, claro, insuportavelmente angustiante. E piorou, para mim, quando, insone, em certa madrugada, fui tomar um gole — que entrou mal — de uísque, senti a metade direita do rosto perder a sensibilidade, algo estranho na perna esquerda, levantei-me, para ver como reagiria. "Não foi um AVC".

Aí se deu que, alguns dias depois, Nayah nos ligou dizendo que se quiséssemos ver nosso filho ainda vivo, a hora seria aquela. Eu e Ione fomos a Fortaleza e o encontramos surpreendente sereno. Mal cheguei, me perguntou se já vira "The Wall" em Paris. Eu conhecera, muitos anos antes, o rock progressivo do Pink Floyd através dele, que colecionava seus LPs, daí a pergunta. E foi o que vimos juntos na manhã seguinte, na TV. Estranhíssimo, o momento em que olhei de lado e vi Dmitri com os olhos parados e crescidos... que me lembraram muito os de Lênin numa foto quando próximo do fim.

Numa noite, poucos dias depois, em casa, tocou o telefone, Fui atender, esperando o pior. Era uma de minhas cunhadas, de Brasília. Vi Ione chegando, tensa, preparada, também, para a péssima noticia,... e eu lhe disse: “Não foi ele, Ione, foi... sua mãe que acabou de falecer”.

Às 7 e 15 da manhã seguinte, Nayah ligou.
Trecho da AUTO B/I/O GRAFIA em que estou trabalhando.

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  1. Germano Romero, não há outro Germano Romero. Só você, mesmo! Valeu, meu caro.

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  2. Receba nossa solidariedade, tardia, mas de coração.

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