A Bíblia, o Alcorão, o Torá, o Bhagavad Gita, o Mahabharata, o Vedas, o Talmude, o Tao Te Ching, o Avestá, e muitos outros, são antigas e sagradas escrituras que atravessam milênios, lidas e cultuadas, ensinando e trazendo sabedoria à humanidade. A Codificação Espírita é bem mais recente, organizada e publicada por Allan Kardec, há apenas 165 anos, no dia 18 de abril de 1857, em Paris.
De obras e livros sagrados originaram-se muitas religiões, com o objetivo de iluminar mentes e ideias, expandir a consciência, tornar o ser humano melhor, mais solidário, conectando-o a valores que transcendem o efêmero, o mundano, contribuindo para sua evolução individual e coletiva.
Quando institucionalizadas, embora estruturadas nas escrituras e revelações, as religiões sofreram e sofrem deturpações de princípios, distorções concernentes às imperfeições humanas, condizentes com o estágio evolutivo. Idem ao que acontece no campo das instituições sócio-político-administrativas.
Por sua vez, da mesma maneira alguns líderes religiosos foram e continuam a ser passíveis de equívocos, principalmente quando misturam matérias e interesses pessoais, institucionais, econômicos, políticos, às lições de conduta, à filosofia e aos ensinamentos dos códigos divinos e das sagradas escrituras.
Em qualquer religião, igreja, crença, existem pessoas boas e pessoas más, justas e equivocadas, altruístas e interesseiras. Muitos erros, e até crimes foram historicamente cometidos pela intransigência de doutrinas que se confundiram com ideias e ideais egoístas, preconceituosos, dogmáticos, bem distantes das crenças que abraçaram.
Hoje em dia, a política vem se inserindo nas atividades religiosas, maculando sua divina e verdadeira essência. Faz parte, evidentemente, da natureza humana, de seu atual nível evolutivo, pois as instituições são organizadas pela humanidade e portanto conterão inevitavelmente os mesmos defeitos e imperfeições de seus líderes e mentores.
Mas isso jamais deve manchar ou prejudicar o que de bom existe nas escrituras, nas religiões, nas crenças e atividades místicas cujo objetivo é exclusivamente o aperfeiçoamento dos sentimentos e das relações humanas. Que esta valiosa e histórica herança cultural não seja vítima dos que as conduzem sob preceitos ou opiniões individuais, momentâneas e efêmeras.
Cinco anos após fundamentar a Doutrina Espírita, antevendo que o Espiritismo também sofreria tais interferências, Allan Kardec recomendou em uma edição da Revue Esprit (Revista Espírita, pág. 62), publicada em Paris, em 1862:
“Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes. Tais discussões não levarão a nada e apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém questionará a moral, quando ela for boa. Procurai, no Espiritismo, aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão uma consequência natural. Devo ainda vos chamar a atenção para uma tática de nossos adversários: a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua competência e que poderiam, com toda razão, despertar susceptibilidades e desconfianças”.
À política, às leis e aos códigos civis estão sujeitas as gerações que as criaram. Às verdades morais, à conduta solidária, estará sujeita a consciência de cada um. A lei da época de Cristo aplicava o apedrejamento em praça pública às mulheres flagradas em adultério. Jesus desafiou os códigos vigentes e a hipocrisia de então. Sobre a injusta e exploradora política econômica, com cobrança de altos impostos, Ele foi inquirido e respondeu: “Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”...
Não misturemos o mundano com o divino. Um passa, o outro não.