FELINA
A gata prenhe, de primeira barriga, olha absorta, sem nenhuma perspectiva, o horizonte longínquo. Eu, absorta, olho, prenhe, a perspectiva longínqua de algum horizonte.
A gata prenhe, de primeira barriga, olha absorta, sem nenhuma perspectiva, o horizonte longínquo. Eu, absorta, olho, prenhe, a perspectiva longínqua de algum horizonte.
QUARENTENA
Pelas contas de um rosário que teimo em não rezar, debulho longos dias de isolamento e solidão. E vou bordando, em frágeis fios, o manto invisível de um futuro, quase Ulisses, que não sei quando virá.
Pelas contas de um rosário que teimo em não rezar, debulho longos dias de isolamento e solidão. E vou bordando, em frágeis fios, o manto invisível de um futuro, quase Ulisses, que não sei quando virá.
URGÊNCIA
De repente, a vida se me revela urgente. Não tenho mais todo o tempo do mundo. Silêncios, pausas e esperas pacientes já não fazem parte do meu escasso presente.
De repente, a vida se me revela urgente. Não tenho mais todo o tempo do mundo. Silêncios, pausas e esperas pacientes já não fazem parte do meu escasso presente.
FALA-BALA
A bala abala, cala a fala. A bala fala, abala a ala. A bala cala, cai na vala. A bala abala. A bala.
A bala abala, cala a fala. A bala fala, abala a ala. A bala cala, cai na vala. A bala abala. A bala.
PRECE
Uma borboleta pálida pousa na pedra rija da calçada. Suas asas em riste parecem mãos elevando aos céus uma prece angustiada.
Uma borboleta pálida pousa na pedra rija da calçada. Suas asas em riste parecem mãos elevando aos céus uma prece angustiada.
EPITÁFIO
Que a morte possa me redimir por ter ensinado bem pouco do que aprendi e ter aprendido bem mais do que me foi ensinado.
Que a morte possa me redimir por ter ensinado bem pouco do que aprendi e ter aprendido bem mais do que me foi ensinado.