É próprio do homem decretar a morte de tudo e de todos. Foi assim com a pintura, com o livro, com a História e, inclusive, com Deus. Tenho para mim que o homem, quando assim se expressa, apenas põe a nu o seu sentimento de finitude diante do que é duradouro e perene. E se esquece de que ‘A vida é breve e a arte é longa’. A poesia é perene, a maioria dos poetas é que passa. Sobretudo os que se deixam subordinar por breviários estéticos ou conteúdos programáticos dessa ou daquela corrente literária.
Em se tratando de poesia, não acredito em fórmulas, mas em formas, principalmente pelo que esta última possui de maleabilidade. A adoção de fórmulas – termo mais apropriado às ciências exatas – termina por suscitar um discurso tautológico, engessado, sem mais surpresas para quem o lê. Aliás, embora necessárias para oxigenar a mesmice dos recursos estilísticos já desgastados por força do uso, também as vanguardas chegam a um ponto em que se exaurem. É quando a poesia dos seus epígonos adquire um caráter monocórdio, cheio de jargões, atrelada a fórmulas pré-estabelecidas, já esgotadas. Aí, então, livrando-se do espaço claustrofóbico da metalinguagem, a poesia reage: volta a se impregnar da ‘marca suja da vida’.”
Por ocasião do meu discurso de posse na Academia Paraibana de Letras, citei trechos do de Edilberto Coutinho, a quem sucedi: ‘Em vez de combater as academias, talvez valha a pena entrar para uma delas e colaborar para que sejam culturalmente úteis, utilitárias’. E finaliza o autor de ‘Maracanã, adeus’: ‘Do ponto de vista da realização literária, não representa coisa alguma o ingresso numa Academia. As Academias não farão de quem não é, bom escritor, e se o acadêmico tiver algum valor, não o perderá na cerimônia de posse.
A Educação deve disseminar o hábito da leitura. Para tanto, cumpre elaborar um método que exclua a obrigatoriedade de o aluno memorizar o acessório em detrimento do principal. No meu tempo de secundarista, por exemplo, obrigavam-me a decorar os afluentes das margens esquerda e direita do rio Amazonas, o que jamais o fiz, pois, àquela época, já vislumbrava “a terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, o mítico Capibaribe, de Bandeira e de Cabral, enfim, os rios mais profundos, mais densos, mais caudalosos e perenes, porque extraídos da cabeceira, da nascente da linguagem.
Sou mais de dar 'a volta ao dia em 80 mundos' do que de dar 'a volta ao mundo em 80 dias'. Mas, como falar de educação num país que praticamente baniu a Sociologia e a Filosofia da grade curricular? Ou, pelo menos, que deixa de dar-lhes a importância que de fato têm, na medida em que proporcionam uma apurada reflexão a propósito do homem e do contexto no qual ele se insere?...
Numa palestra destinada a jovens estudantes, escrevi: “Benfazejos arroubos os da juventude, a soberba desmedida dos jovens, virtudes sem as quais teríamos nos extraviado dos caminhos sempre tortuosos e íngremes da poesia. A perseverança, hoje, talvez seja o vocábulo mais exato para substituir as efusões da juventude perdida. Perdida? Não, pois creio que ela ainda permanece na minha devoção à palavra, na minha profissão de fé na poesia!”
* excertos de entrevista