DESPEDIDA
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos) e algo chamado silêncio ficou atado ao último pórtico onde calamos nossas vozes e partimos, mutilados de nosso amor. (sobrevoando o Atacama, abril 2022)
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos) e algo chamado silêncio ficou atado ao último pórtico onde calamos nossas vozes e partimos, mutilados de nosso amor. (sobrevoando o Atacama, abril 2022)
DESPEDIDA (2)
Houve uma tarde de águas que tardavam sobre a areia sustendo o instante do recuo. (ignoravam a boca do oceano e seu sugar profundo.) Espreitava, o Raso-Fundo, o entardecer da última sombra. O leva e trás, abandonado em cristal, cingiu de rubro os passos de Caronte. Ele, repousou o remo, desceu da barca e andou sobre as águas ─ manto de sal cerzido. Sob a língua da grisalha figura - a aguardar a partida - o peixe morto. Plasmou-se o pacto, no silêncio da hora entardecida.
Houve uma tarde de águas que tardavam sobre a areia sustendo o instante do recuo. (ignoravam a boca do oceano e seu sugar profundo.) Espreitava, o Raso-Fundo, o entardecer da última sombra. O leva e trás, abandonado em cristal, cingiu de rubro os passos de Caronte. Ele, repousou o remo, desceu da barca e andou sobre as águas ─ manto de sal cerzido. Sob a língua da grisalha figura - a aguardar a partida - o peixe morto. Plasmou-se o pacto, no silêncio da hora entardecida.
DESPEDIDA (3)
Existe uma impossibilidade nas flores que brotam na boca da menina adormecida. Mas a menina apenas dorme com a ilusão do beijo brotando entre os dentes.
Existe uma impossibilidade nas flores que brotam na boca da menina adormecida. Mas a menina apenas dorme com a ilusão do beijo brotando entre os dentes.
MADEIXAS DAS SOMBRAS
O Eu apagado, descrente, o crucifixo do outro e toda nudez do medo. Meu martírio: esta fogueira que não vesti. Se restam fagulhas, são versos roubados, pés trocados de outros passos no silêncio das cinzas.
O Eu apagado, descrente, o crucifixo do outro e toda nudez do medo. Meu martírio: esta fogueira que não vesti. Se restam fagulhas, são versos roubados, pés trocados de outros passos no silêncio das cinzas.
NOTURNO MARÍTIMO
Tilha de prata, véu e sombra entornada sobre os lençóis. O aflito suspiro na despedida de deus - tudo nos escorre. (Qualquer resposta derramada é uma perseguição.) Sempre um depois, uma promessa de encontro, um flerte, o desabafo no urro entre as coxas, uma pretensa ausência e um sorriso - abominável - de soberba.
Tilha de prata, véu e sombra entornada sobre os lençóis. O aflito suspiro na despedida de deus - tudo nos escorre. (Qualquer resposta derramada é uma perseguição.) Sempre um depois, uma promessa de encontro, um flerte, o desabafo no urro entre as coxas, uma pretensa ausência e um sorriso - abominável - de soberba.