No cenário do Brejo de Areia, repleto de serras e verde por todos os lados, um lenitivo para os olhos, José Américo de Almeida se fez homem escutando as vozes do silêncio, que saíam dos canaviais, dos pés de serra e dos grotões, do som das cachoeiras e do vento a balançando as palmeiras.
A paisagem do Engenho Olho d'Água, onde nasceu e aprendeu a ser silencioso, ouvindo o vento uivando pelos canaviais, nunca abandonaria José Américo. O vento, se esparramando nos telhados das casas de sua pequena cidade, carinhosamente, chamada de Vila Real do Brejo de Areia, o acompanhou como alimento à saudade.
Sua infância foi povoada por vista exótica e abundante, em beleza singela. Para ele, verdadeiro lenitivo. Desde a maneira como a natureza se apresentava, viçosa e exuberante, com seus componentes de variadas espécies, animais e vegetais, ele guardou como alimento para toda sua produção de escritor.
No tempo da sua infância, a terra apresentava uma fisionomia que pouco oscilava. Sempre verde, estava pronta para o cultivo o ano todo. As serras e grotões eram decorados com o verde das matas, plantações de café, de agave e dos canaviais. As flores silvestres perfumavam todos os recantos do lugar.
Dos pássaros de muitas espécies, destacavam-se o tiziu, o papa-capim, o galo-de-campina e os canários cor de gema de ovo, que transformavam o alvorecer e à tardinha em momentos alegres, parecendo uma sinfonia de muitas vozes.
Na tenra idade, lembrada em suas memórias, imaginava o mundo dividido em dois ambientes: casa-grande do engenho e na mata defronte no alto do morro, por ele, considerado lugar inviolado.
O pomar ao redor da residência da família, no engenho, é visto como “sagrado”. Ali, existiam as fruteiras para colheita. Ele mesmo, às vezes, se atrevia a colher algum fruto saboroso para se deliciar. Saborosas mangas e, nas escapulidas que dava, sentava à sua sombra ou brincava dependurado nos galhos que se derreavam até ao chão.
O jardim, sempre recordado com saudade, oferecia plantas em forma de farmácia caseira: sabugueiro, hortelã de folha grossa e de folha miúda, erva-cidreira, erva-doce, erva-babosa, capim-santo, alecrim, colônia e muitos outros exemplares da flora medicinal.
Num jirau de toro de vara entrançada, amarrado com cipó ou corda de caroá, cultivava-se coentro, tomate e cebolinha. Eram das terras próximas de casa que vinham o açafrão, o alho, a pimenta malagueta e a pimenta do reino. No aceiro do terreiro, o jatobá e o pé de maria-preta serviam para amarrar os animais, ou o flamboyant e os ipês que enfeitavam as matas ao redor de casa, a todo tempo lembrados.
Ao descrever suas paisagens humanas e rurais, como poucos, José Américo simbolizava uma árvore humana que brotaria para sempre nas terras agrestes da Paraíba. Foi o escritor francês François Mauriac quem disse, com propriedade, o que se aplicaria ao autor de A Bagaceira: “A humanidade toda inteira se encontra no camponês da nossa intimidade e todas as paisagens do mundo no horizonte familiar, aos nossos olhos de criança”.
A paisagem do Brejo, mais do que a região do Sertão, ganhou valioso espaço na memória de José Américo, brotando como um rego de água cristalina que corre entre as enseadas. Desde a infância até os anos finais de sua vida, vivendo na morada escolhida na Praia de Tambaú, em João Pessoa, continuamente, foi um homem apegado à natureza.