Moda é moda, mas há cada uma... Moda de andar com a calça jeans rasgada. Tem coisa mais ridícula? Só perde mesmo para a calça boca-de-sino lá nos anos 70 e que era acompanhada do sapato de salto carrapeta. Um horror! Nesse quesito moda, sou conservador. Por exemplo: gosto da tal da gravata, pois acho elegante e de bom tom usá-la. Sempre que posso, lá estou eu todo pimpão, devidamente engravatado. Mas para mim, o máximo da elegância são os suspensórios combinando com a gravata borboleta. Mas adulto, nunca os usei e nem usarei esses acessórios juntos ou separados. Invejo quem o faz e só não o faço por culpa de um irmão e de uma tia. Coisas de família, mas vou contar.
Elin Gann
Antes de se tornar um rapagão gentil e cheio de boniteza, esse tio foi criado na serra, calçando botinas desde pequenino. Ainda vestindo suas flanelas aprendeu buscar calor junto ao fogão à lenha de onde saiam as refeições, estourava-se o pinhão e puxava-se prosa à noitinha. Pegou costume de levantar cedinho, não temer o ruço e nem a geada que abraçavam aquelas montanhas, o que não o impedia de ir ao Grupo aprender as primeiras letras. Assim foi crescendo e ganhando tamanho até se formar professor.
Naquela casa de madeira, sob o teto que o próprio pai construíra, ele e mais cinco irmãos cresceram sob a égide da brabeza do patriarca e dos conselhos da mãe. Filho e filha para meu avô, não podiam se esconder de trabalho e deviam se fazer merecedores de respeito. Era a lei naquela casa.
Cecilia Skaf
Agora meu irmão. Tinha à epoca uns seis anos, mas era teimoso que só. Minha mãe comprara em uma loja de armarinhos um par de gravatinhas borboleta. Uma para ele, outra para mim. Eu cheguei a usá-la em algumas ocasiões. Meu irmão onde quer que fosse, dava um jeito de colocar a tal gravatinha. Aprontava a maior birra se alguém tentasse impedir o uso daquele adorno.
Andre Hunter
— Tira esse negócio ridículo do pescoço, seu caipira. Que coisa mais horrorosa. Quando sua tia olhar você vai pensar: “Lá vem a caipirada...”. Tira logo isso.
Fuel
— Então fica com essa porcaria no pescoço. Quando sua tia conhecer você, vai lhe dar um beijo , segurar as pontas dessa gravata e vai dizer: “Que gravatinha mais linda!”. Mas por dentro vai estar pensando: “Que coisa horrível esse caipirinha de gravata!”.
Depois da cerimônia na igreja, quando vimos a tia só de longe, chegamos à recepção. Meu tio, todo gentil, trouxe a noiva e apresentou a cunhada, o irmão e em seguida começou apresentar os sobrinhos: eu, minha irmã, a irmã caçula e finalmente o teimoso. Toda cheia de carinho, ela olhou para ele e com muita ternura, deu-lhe beijo na bochecha e em seguida, com uma mão em cada aba da gravatinha foi dizendo:
— QUE GRAVATINHA MAIS LINDA!
Meu irmão choramingou o resto da festa, mas não tirou a gravata. Meu pai falou ainda: “Eu não disse pra você?” E eu... Bem, eu nunca mais tive coragem de usar uma gravata borboleta.