Quantas convicções eu já adquiri? Tenho diante de mim tantas agitações como se quase nada do caminho tivesse sido percorrido. Sinto que tenho o poder de dizer, mas, ao mesmo tempo, faltam-me palavras para expressar o quanto este coração, que agora pulsa, pede clemência, clama pelo direito ao silêncio diante de algumas causas.
Importa, então, percorrer para que este autoconhecimento se dê como forma de me restaurar dos lutos e lutas diárias. Serei eu o companheiro que por toda a vida terei que suportar. Como ser forte se me imponho tantos fardos? Carrego-me para um lugar no qual a pauta que guiará o evento é marcada por realidades antitéticas.
Eis que sou uma metáfora. Uma metonímia de meu sonho. Uma parte pelo todo. O todo pela parte. Pousa em minhas mãos uma vontade de preencher todas as ausências do mundo. Mas quem preencherá a ausência da ausência? É preciso consenti-la para que a poesia brote do mais infrutífero solo. Se solo estou, só lamento por não promover um encontro com outros ares. Porém, respiro, piro, suspiro.
Ter me aproximado dos livros foi uma tentativa de entender as pessoas e a mim mesmo. Escolhi ser professor pelo mesmo motivo. Se "cada cabeça é um mundo", então insisto em tentar compreender os vários mundos que me rodeiam em uma sala de aula e/ou em cada personagem de livros que leio.
Vou. Vou com raça porque é assim que se traça a vitória. Nada me basta, nada se explica, nada me consola. Quem sabe uma canção que fale de Deus e do improvável que faz eu não ser de mim. A poesia é o meu requinte. Sem ela, eu sou de quinta. Com ela, eu sou da vida. Nas salas de aula eu me percebo pessoa, eu me sinto útil e isso me autentica enquanto ser humano. É uma forma de não ceder à mesmice. É uma constante transmutação daquilo que, aos poucos, vou assimilando e tomando conhecimento.
Beber conhecimento é a forma mais produtiva de se desvencilhar da banalidade da vida. E quanto mais aprendo, mais os campos das possibilidades se mostram. É gratificante e, ao mesmo tempo, angustiante. Como diria Sartre: “a angústia nasce das possibilidades”. Mas, com amor, nós prosseguimos neste claustro que nos enaltece. Entretanto, precisamos resguardar a liberdade para não nos sufocarmos quando for necessário renunciar.
Ser uma pessoa pública não implica ser um terreno baldio no qual se atira lixo sem considerar a propriedade que a constitui. Mas, se me jogam lixo, eu o reciclo. É uma questão de sobrevivência. Não posso fugir. Resta-me encarar para que não me fragilize ainda mais. Se eu perder a luta, a menos terei perdido o medo e me darei o tempo da cicatrização. A carne se engrossará evitando maiores rupturas.
É esta comunhão que tento proclamar: beber o próprio sangue, enxugar o suor, para que outras histórias possam brotar. Afogar-se nas próprias lágrimas não me soa proveitoso. A vida é um bem querer querendo-se bem. É no escuro que curo a luz.