Flagrei-me ao lado do escritor, artista, crítico, intelectual e pensador Waldemar José Solha, e de sua adorável esposa Ione, quando os dois comemoravam, em Paris, suas bodas de ouro, em 2015.
Poder ter participado de uma tarde dentre os dias dessa festa é algo que guardarei comigo para sempre. Nos dias de hoje, invadido por redes sociais, em que vemos tantos casamentos de fachada, não é para qualquer um passar cinquenta anos de sua vida ao lado de outra pessoa.
Nosso bate-papo foi interessantíssimo e diversificado: conversamos sobre Shakespeare, Napoleão, pintura impressionista, cinema, a condição sócio-econômica dos imigrantes na cidade, Van Gogh, Rodin, cemitérios parisienses famosos e seus defuntos igualmente famosos. E novamente sobre cinema e pintura impressionista. E não necessariamente nessa ordem. Ah, e também passeamos! Começamos a andança na lateral do Musée Rodin, atravessamos a Place de la Concorde, visitamos a Igreja La Madeleine e o Musée de l’Orangerie. Depois, passamos triunfais pela Champs-Elysées e concluímos o “tour” no Arco do Triunfo, que surge ao fundo na foto.
Engraçado é você ir a outro país, em outro continente, para, além de visitar igrejas, museus, castelos e monumentos, tentar trocar conhecimento e informação com outras pessoas, sejam do lugar que você está visitando, sejam de outros países, encontrando-se ali em condições parecidas com a sua. Ledo engano: o mundo está cada vez mais uniforme, e as pessoas, cada vez mais artificiais e vazias. São poucas as realmente interessantes, as que de fato valem a pena. Ainda bem que sobraram as igrejas, os museus, os castelos, os monumentos…
E não podemos esquecer o chavão de que se adquire experiência ao viajar, travando conhecimento com pessoas de outras culturas e de outras nacionalidades. Às vezes, entretanto, a cultura e o conhecimento estão ao nosso lado, ao nosso alcance, em nossa própria terra. Será que damos o devido valor a isso?
Mas, tudo bem! Confesso que Paris é uma festa, Solha escreveu um belo texto sobre sua experiência de ter conhecido a cidade ao lado de sua esposa, postando-o em seu perfil no Facebook. Particularmente, acho que o “fast food” turístico que vivenciamos em nossos dias tirou bastante o meu tesão. Ok, admito que por ter estado na capital francesa em 2012, não existiu para mim aquela “surpresa” de conhecer algo novo. Não obstante, o Louvre, o Musée d’Orsay, a Torre Eiffel (por mais que queiram transformá-la em algo “kitsch”) continuam espetaculares.
Ocorre, na verdade, que simplesmente me cansei de manadas de turistas, de lugares apinhados de gente fazendo “selfies” e empurrando os outros para conseguir a melhor foto. A indústria do turismo destruiu um pouco do encanto que a cidade tinha para mim. Provavelmente, hoje me sentiria melhor visitando cidades como Lisboa, Madri, Praga e, vá lá, Amsterdã e Londres – ambas já estão quase chegando ao mesmo nível da histeria turística de Paris. Entendo perfeitamente por que parte dos parisienses tem fama de mau humorados.
É, Paris é mesmo uma festa, porém fiquei com uma pulga atrás da orelha: na tarde em que estive com o casal também em festa, a conversa que travei com Solha impressionou-me mais do que o passeio que fizemos - talvez por gostar demais de Paris, mas não ter encontrado nela, nessa última vez, o encanto singular de cidades como Praga, Lisboa, Madri. Ou então, por ter estado ao lado (e em Paris!) de um dos maiores patrimônios culturais e artísticos ainda vivos de nossa terra, a conversa tenha sido mais interessante que a atmosfera mais recente da cidade em si... Nesse caso, o triunfo é todo seu, amigo e mestre Solha.