Fez, mesmo, acredite. E é bem possível que também tenha levado sua avó às lágrimas. Na verdade, o moço, em seus bons tempos, abalou o coração de tudo o que era mãe e avó neste País de dimensões continentais.
E, creia, seu pai não gostava nada disso. Tiro pelo meu. Lembro dele a esbravejar pelos cantos da casa. “Essa janta sai, ou não sai?”, perguntava meu velho para obter silêncio por resposta. Aquelas duas, em tais ocasiões, somente tinham ouvidos para as tramas do cubano.
Conhece alguma Isabel Cristina? Uma Maria Helena, porventura? Pois é... culpa do cubano. Foi ele quem as pôs nesse mundão de Deus. De 1950 a 1951, por meses a fio, as nossas, ou as irmãs dos nossos amigos, foram à pia batismal com nomes assim dobrados, em homenagem você sabe a quem.
Mas, afinal, quem era esse sujeito e o que fazia para o envolvimento da mulherada? Pois bem, chamava-se Félix Caignet e escreveu “O Direito de Nascer”, a novela irradiada em países sucessivos. No Brasil, foi inicialmente posta no ar pela Rádio Nacional, com tradução de Eurico Silva.
O primeiro elenco reunia nomes de peso a exemplo de Paulo Gracindo, Saint Clair Lopes, Isis de Oliveira, Yara Sales, Dulce Martins, Talita Miranda e Darcy Cazarré. Conta-se que Eurico Silva foi além da mera tradução, porquanto inseriu no enredo original personagens novos e histórias paralelas.
O mais retumbante sucesso da radiofonia brasileira tinha capítulos de quase meia hora, se somado o tempo dos comerciais apresentados na abertura e no encerramento de cada um deles.
Um narrador de voz aveludada (Nélio Pinheiro) conduzia a trama e a ela dava a carga de emoção da qual resultava o pranto invariável das donas de casa, de suas mães e filhas desde que tivessem, estas últimas, idade suficiente para o namoro e as paixões.
A Rádio Nacional, sediada no Rio de Janeiro, entrava com som de boa qualidade em quase todos os pontos do País. Em cima de mesinhas dispostas, orgulhosamente, nas salas de visita, os aparelhos de rádio traziam as marcas Philips, RCA Victor, Philco, ou Pilot, as mais famosas. Com o advento dos transistores, passaram a tomar o apelido “bunda quente”, alusão às válvulas sempre incandescentes, de tamanhos diversos.
“O Direito de Nascer” contava a saga de Maria Helena, uma mãe solteira na sociedade preconceituosa. Para piorar as coisas, a moça engravidara de um homem casado, um cafajeste por quem fora enganada. Seu pai, Dom Rafael, que rejeitava o neto, só não o matou porque a empregada da família, Mamãe Dolores, cuidou de esconder e criar o menino. Maria Helena, amargurada, internou-se num convento.
Sob a proteção de Mamãe Dolores, o pirralho cresce com o nome de Albertinho Limonta, entra na faculdade e termina Medicina. Tempo depois, desconhecedor da própria história, salva a vida de Dom Rafael, então vitimado por um derrame cerebral. Paralítico, o velho percebe-se, finalmente, avô de Albertinho e, embora arrependido da rejeição ao neto, nada conseguia dizer, pois também perdera a fala.
Albertinho apaixona-se pela prima Isabel Cristina. Amor correspondido, é claro. Lágrimas de encher açude até o dia em que, do alto do seu convento, Sóror Helena da Caridade descobre-se mãe daquele moço. E todos foram felizes para sempre. Não é assim que se diz?
Ah, sim… O mesmo enredo chegaria à televisão em duas versões. Em meados da década de 1964, pelos sinais da finada Tupi. Depois, em 1978, sem o mesmo sucesso, evidentemente, dado o sabor de filme já visto. Seja como for, depois de “O Direito de Nascer” o Brasil nunca mais foi o mesmo. Virou o País das novelas. Culpa de quem? Você adivinhou: do cubano.