O ano de 1968 começa com o fim do programa "Jovem Guarda" (17 de janeiro) e termina com o AI-5 (13 de dezembro). De quebra, houve o famoso Maio de Paris, a Passeata dos Cem Mil, o fim da Primavera de Praga, as mortes de Gagarin e Chatô - e os assassinatos de Edson Luís, Martin Luther King e Bob Kennedy. Para fechar o firo, Paulo VI acha de condenar o uso de anticoncepcionais, publicando a encíclica "Humanae vitae" (Da vida humana).
A temperatura aumenta com a eleição de Nixon e a escalada da Guerra do Vietnam (que toma conta do noticiário como um autêntico bate-estaca). Mas algum glamour aparece com Martha Vasconcellos sendo eleita Miss Universo e Jacqueline Kennedy, a musa de todos nós, casando-se com o armador grego Aristóteles Onassis.
É verdade que houve um lampejo verde-amarelo de auto-estima. O Dr. Zerbini fez o primeiro transplante de coração, aqui no Brasil, repetindo o badalado cirurgião sul-africano Christian Barnard. Mas os corações brasileiros “explodiram” mesmo foi com o discurso do jornalista e deputado Márcio Moreira Alves, no Congresso Nacional.
Vou falar a verdade: nem a primeira transmissão pela TV de um lançamento de nave espacial (a Apolo 7), nem a “Batalha da Maria Antônia” mexeram tanto comigo quanto o filme "2001: Uma odisséia no espaço", do mestre Stanley Kubrick, lançado naquele ano com o carimbo de ficção científica.
Para certo rapaz de 19 anos, cabelos compridos, sempre de calça Lee, camiseta Hering e sandália japonesa, meio fora de esquadro para os padrões burgueses da família, o contato com a “inteligência artificial”, a influência da tecnologia na evolução da espécie e aqueles astronautas travando uma luta mortal contra o computador HAL-9000 me abriram os olhos para o que ainda viria pela frente.
Tudo em 1968 - aquela erupção vulcânica planetária, aquele terremoto universal - teve uma única matriz: os primeiros ensaios da Telemática, espécie de dínamo da Tecnologia da Informação, no ambiente paranoico da Guerra Fria. Opinião de simples figurante de superprodução da Metro, aqui na pequenina e remota Paraíba: "Nitroglicerina pura".
Felizmente, pra desanuviar, ainda sobrou um tempinho para sair pela rua cantarolando "Alegria, alegria", música que ficou em quarto lugar no festival de 1967 - mas que, talvez por ser a síntese de tudo o que estava acontecendo, caiu na boca do povo.
Xiii, nem me lembrava mais: Lá vai mais de meio século!!!...