Sextou… E a gente estava como? Morrendo de preguiça de fazer “aquele” almoço convencional!
Mas, para não deixar o estômago roncando e reclamando pelo sagrado alimento que sustenta nosso corpo, a solução estava pertinho: na geladeira!
O suco de laranja ganhou um toque especial, com alguns araçás que estavam quase murchando, após serem guardados e “esquecidos” por dias num potinho.
Já o pão com gergelim, um pouco duro, virou a torrada, que foi esquentada com manteiga da Terra e pitadas de alecrim e queijo ralado. Para dar o molho à refeição, flambei, também na manteiga (não gosto muito de azeite), um pouco de grão de bico, ovo cozido e tomate cereja. Nada sofisticado, uma comidinha simples e lacto-vegetariana, que encheu meus olhos e aguçou meu paladar…
Se você gostou, não faça cerimônia. Esteja convidado para experimentar (quem sabe, até mesmo amar) desta delícia “nutritiva & saudável”! Uma culinária que foi fruto do improviso, recheada com capricho e temperada com todos os ingredientes do amor!
Lembrei de que quando criança eu tinha a Síndrome de Mogli... Sonhava em viver na selva, pendurada em uma árvore e na companhia dos ilustres amigos Balu e Baguera…
Na casa do Miramar, cedida lindamente por meu tio Jáder a papai e à nossa família, vivia cercada de fruteiras. E, embora o chão amanhecesse sempre como um tapete colorido, por causa das frutas maduras, adorava mesmo era subir nas goiabeiras e no alto do pé de seriguela, somente para tirar e comer as frutas mais verdes… Que gostinho azedinho e inesquecível!
Um dia desses, já bem crescida, fui chamada pela querida vizinha Eterna para pegar uns araçás, lá no seu quintal mágico! Com a ajuda de Clara e Yan, seus netinhos lindos, e de um banco (já não sou mais a menina traquina e valente de antigamente) não resisti à tentação das alturas... Fiz uma verdadeira colheita de araçás amarelos (o Araçá Azul só existe na canção maravilha de Caetano Veloso). Peguei no tapete “sujo” da terra, nos galhos mais baixos e, claroooo, na parte alta da fruteira…
O resultado é quase indescritível: o deguste in natura e a feitura dos sucos, dessa espécie de goiabinha bem pequena, riquíssima em vitaminas e com alto poder de imunizante. Uma aventura e tanto, que quero deixar registrada na história da minha meia idade!
E sabe mais? Naquele instante, me senti uma garotinha igualzinha aquela que era imensamente feliz na infância, lá na Carlos de Barros…
Dentro de mim ainda habita a tal da “Síndrome de Mogli”, o menino da cidade que se perdeu numa selva! Morando na casa da árvore, ele vivia livre, leve, solto e tinha um eterno sorriso nos lábios! Eitaaaa, que a saudade daquele tempo, tão puro e bonito, bateu forte em mim...