Temos muito a dizer dessa coletânea de perfis dirigidos à história literária da Paraíba. Simplesmente dizer, sem consequência crítica e sem ir muito longe do estado de espírito que me abriu a natureza para esse gênero de coisas:
“Para onde fores, pai, para onde fores
Irei também trilhando as mesmas ruas
Tu para amenizar as dores tuas
Eu para amenizar as minhas dores”.
Augusto dos Anjos me pegara, assim, à beira da mesma desolação. E inoculara, sem culpa, essa minha queda para as coisas pouco práticas, de nenhuma objetividade. Já repeti muitas vezes que dei meu recado como jornalista de província sem ter sido um bom repórter. Estimulei a pesquisa, o jornalismo investigativo, mas a ânsia por fechar o texto ou por limpar o prato negou-me o aferro exaustivo à objetividade. Na cobertura em parceria com Biu Ramos é dele a melhor contribuição para a história das lutas sociais simbolizada no assassinato de João Pedro Teixeira. No ato, enquanto Biu se extremava na apuração de um crime de repercussão internacional, eu ficava de olhos no chão catando palavras. Em Biu, espontaneamente, as palavras já vinham inclusas no fato.
Demoro no introito ao refletir em cima do texto que Carlos Alberto Azevedo dedica, nesse terceiro volume da série, a Adalberto Barreto. Azevedo foi onde eu não iria, e quão importante se revela o empreendedor, executivo, chefe de escritório, diretor de rádio e de jornal, editor. Não só pela convivência amiga, vocacional e política de toda a nossa vida. Desde a idade da razão até o último dia de Adalberto, ninguém mais indicado para relembrá-lo do que seu antigo companheiro. Com direito a revisar ou completar muita coisa já escrita desde “Café Alvear”.
Mas, então, eis que vou lendo o trabalho de Carlos Azevedo e, a cada parágrafo, convencendo-me que eu não faria melhor do que fiz, ao lado de Biu, na morte de João Pedro.
Lemos juntos, eu, Adalberto, João Manuel, “Os 18 dias que abalaram o mundo”, a reportagem f*derosa de John Reed a nos enfiar nas chamas não apenas da revolução russa como da revolução mundial. E lá ficamos. Os pés aqui no Ponto de Cem Réis, nas redações, na API, na formação da nossa consciência social. Juntos adquirimos absoluta certeza de que “o marxismo é potente porque é exato”, os bastos bigodes de Stalin, o mais imperial dos soberanos da conferência de Yalta, a cimentar nossas convicções. Mas quantas outras facetas de homem e intelectual determinado certamente eu teria deixado para trás. O empreendedor da linguagem de hoje, tão visionário e tão prático quanto os que Celso Furtado idealizara para a utopia desenvolvimentista do Nordeste.
Foi Adalberto quem me convenceu, sem saber, que das minhas artes não sairia nenhum romance. O romance é um obstinado empreendimento. Demorado, exercitado, vivido. Uma mão de obra de severa racionalidade. Desde o Dom Quixote ao nosso Fogo Morto. Seja qual for o estilo, medido como o de Machado ou solto como o de Lima Barreto, corre sobre trilhos. Adalberto não foi mais longe porque não conseguiu se livrar do empresário. Faltou-lhe o pé de meia para assegurar-lhe o tamborete da escrita.