Agradecer é importante. Sempre. Não é apenas uma questão de boa educação, mas uma virtude, segundo o filósofo francês André Comte-Sponville. Não quero dizer com isso que sou educado nem virtuoso. Pelo contrário. Para mim, a educação e a virtude são ideais que persigo, procuro perseguir, com a consciência muito clara de que nem sempre os alcanço. Mas o que importa é tentar. E é o que faço agora com este texto.
Agradeço a Germano Romero o convite para publicar meus artigos e crônicas no blog Ambiente de Leitura Carlos Romero, criado inicialmente como meio de divulgação da produção literária do escritor Carlos Romero, seu pai, e há dois anos aberto à colaboração de outros escritores, principalmente paraibanos. Para mim, esse convite foi uma honraria, fruto da generosidade de Germano, mas também uma verdadeira salvação, já que depois da extinção da versão física do jornal Correio da Paraíba fiquei praticamente sem ter onde dar a público minha singela produção pessoal. Colaborei quinzenalmente no referido jornal por mais de dez anos consecutivos. Ali era a minha janela para o mundo ou, pelo menos, para a minha aldeia, o que já era muito para um simples escriba municipal. Era uma forma de participação na vida cultural do meu lugar, uma maneira personalíssima de não ser omisso, de opinar, de me fazer em alguma medida presente no cotidiano de minha gente, ou de simplesmente dizer: “Não morri ainda”, não como modo de exibição vaidosa, mas apenas como meio de contribuir com o coletivo, pondo meu tijolinho no grande mural que é a vida comunitária dos homens.
Diz Sponville que a gratidão é “a lembrança reconhecedora do que ocorreu: lembrança de uma felicidade ou de uma graça, e felicidade ela própria, e graça renovada. É por isso que é uma virtude: porque se rejubila com o que deve, enquanto o amor-próprio preferiria esquecer”. Eis aí. Lembrança reconhecedora e júbilo pela dívida. Eu lembro e reconheço o que devo ao benfeitor, e nisso me rejubilo, pois que tudo isso faz bem ao meu coração agradecido. Em nenhum momento quero esquecer o que recebi graciosamente; pelo contrário, em todos os instantes quero exaltá-lo, para merecê-lo.
Germano, todos sabem, é um caso raro e edificante de devoção filial. Seu amor e sua dedicação ao cronista Carlos Romero ainda hoje reverberam entre nós, paraibanos, como exemplos incontornáveis. Amor e dedicação na vida e na morte. Daí a expansão, há exatos dois anos, do blog que leva o nome paterno, para acolher textos de outros autores além do patrono, transformando-se num êxito admirável e numa justa recompensa dos esforços do filho abnegado. Sob este aspecto, Germano é um mecenas a quem muito devem as letras paraibanas. E só por isso merece as homenagens da Paraíba e dos paraibanos, principalmente das instituições culturais, estas sempre tão econômicas – até mesmo avaras – nesse tipo de reconhecimento que só faria engrandecê-las.
Sem falar que Germano é, ele próprio, como sabemos, um completo homem de letras, um cronista que muito dignifica a herança paterna e a crônica paraibana, uma presença constante nos jornais locais há muitos anos, enfim, um nome que por seus méritos e por si só, independentemente do sobrenome ilustre, impõe-se ao respeito de todos. Arquiteto de profissão, músico por formação e escritor por vocação, Germano é um intelectual completo, a quem não falta o minucioso e vário conhecimento do mundo, fruto de suas incontáveis e enriquecedoras viagens, forma privilegiada de educação.
Voltando ao filósofo, ele diz ainda que a gratidão “é a alegria da memória”. Sim, porque só quem é verdadeiramente grato se alegra em lembrar quem lhe fez o bem. Os que não o são, ao contrário, procuram esquecer o benefício e o benfeitor cujas memórias lhes causam incômodos, assim como as dívidas não pagas. Atribuem ao pensador Antístenes outra frase bonita e verdadeira: “A gratidão é a memória do coração”. Sim, é isso mesmo. Por isso, é com alegria no coração que agradeço a Germano a oportunidade que generosamente me deu – e continua dando.
Pelos últimos dois anos, parabéns, amigo. Vida longa ao blog e ao seu criador.